15/06/2013

“QUAL SERÁ O NOSSO AMANHÃ?” (*) E AS PREVISÕES TENEBROSAS


O “Inferno”, novo livro de Dan Brown e a sua visão sobre o inferno de Dante Alighieri (Divina Comédia), e uma mensagem apocalíptica sobre a explosão populacional. (1).

Debrucei-me sobre o novo livro de Dan Brown, “Inferno”. Dentro de minhas possibilidades tenho por hábito não me prender a um tipo determinado de literatura, comecei a leitura com alguma desconfiança pelo apelo comercial que a obra poderia conter.
E ela contem mas há que destacar que no seu enredo trepidante há muito de cultura e descrição de pontos turísticos de Florença, Veneza e Istambul que normalmente fogem da atenção ou do interesse do viajante e do turista.


Eu que conheço as duas cidades italianas lamentei muito não ter chegado nem perto de todas as atrações que elas resguardam e reveladas pelo famoso autor de “Inferno”
Pois bem, gostei do livro.
A história de Dan Brown tem como ponto alto, o “Inferno” da Divina Comédia obra célebre de Dante Alighieri e nessa linha engendra as novas aventuras do seu herói Robert Langdon. O ponto de partida da história se fixa na pintura clássica do artista florentino Sandro Boticelli, horrível, “Mapa do Inferno”, que exatamente representa esse lugar de castigos eternos, segundo a interpretação do pintor às descrições de Dante Alighieri em sua obra. (2).



Já escrevi na minha crônica “Apocalipse Agora” sobre as seis bilhões de almas que habitavam a Terra há uns 15 anos e que agora já ultrapassam sete bilhões. (3).
Não consegui redescobrir com precisão as origens das informações, aquelas que batem na memória, lidas nalgum lugar há décadas e que se perderam.
Mas, nesse passado de décadas, certamente que numa publicação de proposições metafísicos, li que a Terra poderia suportar até seis bilhões de habitantes e suportar essa 'carga' com certa, “dignidade”.
Não de hoje, pois, tenho aquela marca na memória imaginando então, atingido aquele número, quais seriam as consequências.
Se bem me lembro, o número foi ressaltado na imprensa à época, mas logo superado embora a devastação ambiental, já elevada não tinha os rigores catastróficos de hoje, a fome persistia em países sem e em desenvolvimento, mas havia certo controle, um sentido de solidariedade, ainda que por ações limitadas de ajuda.
Hoje, com sete bilhões, constata-se a degradação ambiental preocupante, grave, poluição climática desenfreada, aumento da violência e da barbárie, as guerras de sempre fazendo vítimas inocentes e inocentes úteis, a fome, a inanição e do abandono à própria sorte de imensos contingentes populacionais.
E com tal quadro de horrores visto das nossas janelas tão próximo, ao alcance da mão, costuma gerar na mente de grandes grupos populacionais, dos mais variados níveis culturais e religiosos, alguma expectativa de catástrofe mundial iminente, como se deu, por exemplo, com as supostas previsões contidas no calendário maia, que eclodiriam em dezembro do ano passado.
Afinal de contas, não há muito, em dezembro de 2004, houve o “tsunami” na Ásia fazendo milhares de vítimas (mínimo de 220 mil mortos) e imensos estragos materiais e mais recentemente os terremotos no Japão dos quais, além das vítimas humanas, provocaram desastres radioativos gravíssimos com a destruição parcial de usinas atômicas.
Então, esse rumo para o qual segue o mundo tem sido para mim uma preocupação, digamos, “filosófica”, mas não omissa. Não para mim que não enfrentarei as dificuldades que se materializam e se agravam, mas meus descendentes.
Hoje, a vida já não está fácil de viver, convenhamos.


O livro “Inferno”, de Dan Brown coloca entre os protagonistas um cientista brilhante, apocalíptico, obsessivo, Bertrand Zobrist que altera de modo sutil pontos do quadro de Botticeli deixando uma mensagem cifrada sobre as ameaças de um vírus por ele criado que ameaçaria a própria sobrevivência da humanidade.
Langdon, então, juntamente com uma médica aliada enfrentariam dificuldades múltiplas para decifrar a mensagem e as consequências sombrias que adviriam.
Esse cientista pregava que a humanidade enfrentaria o caos, a degradação moral, a falta de alimentos, água, crises ambientais insolúveis com a explosão populacional, que antes de 2050 contaria com nove bilhões de habitantes.
Há referências às teses malthusianas que alertam para a crise da falta de alimentos considerando o crescimento da população em progressão geométrica enquanto os alimentos em progressão aritmética. (4)


Hoje, reafirme-se, há imensos bolsões de fome no mundo vitimando milhões de pessoas, incluindo crianças. Mas, para sustentar os “bem nascidos e remediados”, é inegável que a degradação ambiental se acentua exatamente para produzir alimentos a que custo for.


Pois bem, inserido no enredo da história, no livro de Dan Brown de 443 páginas movimentadas e cheias de reviravoltas se sobressai esta mensagem final:

“Os lugares mais sombrios do Inferno são reservados àqueles que se mantiveram neutros em tempos de crise moral. [Para Langdon] o significado destas palavras nunca estiveram tão claros: Em situações de perigo, não existe pecado maior do que a omissão.”

Essa frase repetida vezes no livro de Dan Brown, creio se baseia neste trecho no Inferno de Dante Alighieri:

“Tal horror espicaçava-me a mente, e eu disse a Virgílio: Mestre, que ouço agora? Que gente é esta, que a dor está prostrando?
Queixa-se dessa maneira”, tornou-me ele, “quem viveu com indiferença a vida, sem ter nunca merecido nem louvor nem censura ignominiosa. Faz-lhes companhia um grupo de anjos mesquinhos, que a Deus não manifestaram nem fidelidade nem rebeldia, expulsos dos céus; nem o inferno profundo os acolhera, pois os anjos rebeldes se jactariam de lhes serem superiores em algo.” (5).

Os que desejarem saber o desfecho dessa história, precisarão ler o livro de Dan Brown.

Legendas:

(*) Nome no Brasil, do filme “Battle Cry” de 1955 – Diretor Raoul Walsh, ambientado nos tempos da 2ª Guerra Mundial
(1) “Inferno” de Dan Brown - Editora Arqueiro (2013)
(2) Sandro Botticelli, nascido em Florença, Itália, em 1445 e lá falecido em 1510. Uma obra famosa do artista: “O nascimento de Vênus”
(3) Minha crônica “Apocalipse Agora”, neste blog, de 13.12.2011
(4) Thomas Robert Malthus (14.02.1766 - 23.12.1834)
(5) “A Divina Comédia” de Dante Alighieri (Florença, 1°.06.1265 – Ravena, 13 ou 14.09.1321) é composta de três partes: “visita” do autor como personagem, ao inferno e ao purgatório, guiado pelo poeta latino Virgílio. Conhece primeiramente o inferno e todos os pecadores, que incorreram nos mais variados pecados, sofrendo os castigos eternos segundo suas culpas, ao purgatório e, quando chega ao paraíso, é conduzido por Beatriz, sua amada, cujo amor não foi correspondido.
Vali-me nesta crônica da edição da L&PM Pocket de 2006, “Obra [na maior parte] adaptada para prosa”.

Imagens:

Florença, Itália

Quadro de Sandro Botticelli "Mapa do Inferno" e detalhes em zoom



Apêndice:

MATA ATLÂNTICA EM MINAS VIRA CARVÃO PARA OS FORNOS DE SIDERÚRGICAS

Ainda que escrevendo somente para mim, nos veículos restritos que tenho disponível, inclusive neste, escrevi, entre outros, dezenas de artigos revelando minha angústia com a devastação ambiental.
Essa devastação no Brasil é dolorosa e preocupante, mas a grande maioria dos povos se fecha num casulo principalmente por estas plagas, vibrando com novelas, com o futebol em particular, ficando ao “Deus dará” a providência para esses abusos ambientais inomináveis.
Afinal de contas, ouve-se – e há literatura de autoajuda recomendando isso -, “eu vivo o presente – o futuro a Deus pertence”; mas nesse futuro insondável há o conjunto familiar, filhos e netos.
Há dias voltei a me escandalizar, porque já estive revoltado antes, com esta notícia e mesma notícia:

“(...) É a quarta vez consecutiva que o Estado [Minas Gerais] lidera o ranking de perda da floresta [Atlântica].”
“Sozinho, o Estado foi responsável por metade do desmatamento do período, ali realizado principalmente para fazer carvão para abastecer fornos de siderúrgicas. Considerando somente as florestas (e não outros tipos de vegetação da Mata Atlântica), houve perda de 10.7512 há no Estado entre 2011 e 2013 – um crescimento de70% em relação ao ano anterior.”(Jornal “O Estado de São Paulo” de 05.06.2013).
É isso
Árvores nobres, de uma reserva diminuta, algo em torno de 8% de sua extensão original, sendo convertidas em carvão para sustentar, ainda hoje, com tanta tecnologia disponível, siderúrgicas mineiras. Trata-se de insanidade inacreditável, um crime que se mantem impune. Por quais interesses essa prática se mantem é bem fácil entender: a linguagem do dinheiro que a poucos beneficia.
E a impunidade é tanta que o governo federal comemora, no que se refere à Amazônia ainda cheia de elementos a desvendar, tantas vidas selvagens sendo ceifadas, os quantos quilômetros foram devastados de um ano para outro. Trata-se de postura enganosa porque de ano para ano, num mais noutro menos, a floresta vai desaparecendo mesmo que todos saibam que é ela que tempera o clima.
Há com efetividade um círculo de incompetência e irresponsabilidade porque os atos insanos se referem ao aqui de agora.
O futuro, ora, a Deus pertence.

No trajeto do estado de São Paulo para Minas Gerais, via Anhaguera e na sua continuação no território mineiro, são imensas as áreas devastadas, largas extensões abandonadas. Há um misto de plantação de cana e milho. Nessas áreas a perder de vista, não houve, de regra, a preservação pequena que fosse, da vegetação nativa ou replantio de árvores, de micro bosques.
Claro que não adentrei em tais áreas, mas nada me convence que minas foram levadas de roldão pela mesma devastação que aumenta a incidência da seca.

O que adianta se referir a tais omissões e insanidades? Se a ninguém, serve para mim. Não serei eu quem se conformará. Não sou omisso.



Um comentário:

Caio Martins disse...

Caro Milton, somos realmente complicados: de um lado, construímos coisas de rara beleza e, de outro, destruímos o que nos cerca... Alguém, em algum momento, errou no projeto!
Forte abraço!