20/09/2009

INTUIÇÃO DESVENDADA





(Igreja de Santo Antonio / Praça do Patriarca - SP)

Foto: Antonio Erivaldo - fotolog.terra.com.br/toninho:424)


Daqueles idos brilhantes que já tanto me referi, retorno minhas impressões, lembranças a uma professora de filosofia, que em algumas aulas no colégio, promovia um exercício religioso: abria a Bíblia ao acaso e incentivava os alunos participantes a ler um versículo. Em seguida pedia que cada um desse sua interpretação.
Dizia que a Bíblia tinha diversos significados, verdades que se intuem segundo o merecimento do fiel, mas em especial a vontade sincera em compreendê-la. Nesses exercícios bíblicos uma certa comunhão do grupo com o texto objeto de reflexão, poderia inspirar novas revelações.
Essa professora, juravam no colégio, pertencia a uma ordem religiosa católica. Quando perguntada, com aquele respeito todo, ela não confirmava e não negava, apenas desconversava.
Mas, a forma como se trajava e agia, sempre de vestido longo, cinza claro, na altura do tornozelo, sem pintura, cabelos lisos cortados pouco acima dos ombros, olhar brilhante e sereno num rosto redondo, rosado naturalmente, não negavam alguma ligação com uma qualquer ordem religiosa.
Naqueles exercícios, algumas derivações bíblicas iam eclodindo, transbordando, não decorrentes do exercício intelectual, mas da intuição, da interioridade. Existia naqueles momentos, um (in) explicável sentido de paz.
Sempre me lembro dela e de outros. Onde andariam esses expoentes? Ainda vivem?


Já disse que me desviei para correntes do ocultismo. Algumas dessas correntes incentivam, conduzem o adepto a encontrar na sua interioridade o seu templo e sua religião. Há alguns conceitos universais ou religiosos que dão as linhas básicas de conduta. Assumidas essas, à medida que o adepto se esforça, mais ele se encontra e mais ele renuncia a certos valores mundanos. A conjugação da auto-compreensão, com a renúncia a certos (des) valores vai levá-lo a identificar sua espiritualidade.
Mas, isso não é fácil, porque o dia-a-dia o coloca diante de imensos desafios mundanos. Que também se constituem valiosas possibilidades de progresso, se aqueles valores universais forem preservados como norma de conduta. Mas, na contrapartida, tende a fazer esquecer essa busca eminentemente religiosa e espiritual que estaria latente no âmago de sua interioridade.
Fica mais fácil, pois, frequentar uma igreja no domingo. Naquelas horas que ali passa, exterioriza o fiel sua busca pelo divindade, se apoia nalguma santidade, num exemplo. E interioriza certas vibrações das orações, das pessoas que ali estão, também, buscando uma melhoria pessoal ou religiosa.
Certa feita, um tanto intranquilo por alguma coisa que já não me lembro, voltei a uma missa católica. Saí muito mais confortado, principalmente pelo congraçamento que houvera entre os fieis.
Todas essas confidências que me encorajei a relatar, vêm a propósito da emoção que sempre sinto ao me deparar com pessoas em oração.
Normalmente, quando em São Paulo, para suportar a poluição e o cansaço adicional que ela provoca, tenho por costume, parar um pouco na Catedral da Sé e, na sua meia-luz, fazer um pequeno recesso, observando as pessoas que entram e saem. Outro dia, fiz isso na Igreja da Praça do Patriarca (Igreja de Santo Antonio).
Homens e mulheres, simples ou bem vestidos, entram, ajoelham-se ou não, oram diante de uma imagem ou no próprio genuflexório e se retiram.
Não importa o tamanho da imagem. O que importa é a busca da graça, do calor espiritual que o gesto, a oração piedosa podem produzir. São aquelas, as imagens, apenas símbolos que levam à religiosidade.
Quanto a mim, enquanto permaneço estacionado sem enveredar para minha autorreligiosidade pelos motivos mundanos que me deparo a cada dia – boa desculpa, hem? - alimento muita simpatia por aqueles que, no recesso de uma igreja, numa hora qualquer do dia, exteriorizam sinceramente a sua, sem exacerbações e exageros. Apenas um momento de reflexão e oração.
A propósito, já nem sei quantas vezes usei o trecho abaixo de uma poesia minha, cujo teor se perdeu. Vale mais uma vez para sintetizar o que quero dizer:


"A vida caminha pra frente
Sucedendo-se o dia-a-dia feliz ou triste,
Não há sequer uma garantia
Nessa seqüência de luta sem nexo (ou sadia ?)
Sinto que há nesse vai-e-vem
Valores interiores, superiores, sutis.
Como descobrir o que exprimem
Se os embates da luta me reprimem ?
Parece que essa luta sadia (ou doentia ?)
Não começa no sexo e termina na morte:
Há mensagens fortes nessa contradição
Que só a Alma silenciosa possibilita audição".

02/09/2009

ETÉREOS










(Imagem: borboleteando.blogger.com.br)



Fazer poesia, para mim, significa um desafio. Há momentos, raros, porém, que fluem elementos que me obrigam a produzir alguma coisa e, às vezes, dá certo.
Já disse um sem número de vezes que minha juventude foi (muito bem) vivida em São Caetano do Sul.
Com relativa proximidade à Serra do Mar, muitas vezes o nevoeiro que por ali eclodia, trazia algumas rebarbas na cidade. Em São Bernardo, havia dias em que a visão não alcançava além de cinco palmos, tal a espessura da massa branca.
Havia tardes de inverno, mesmo quando meio temperados, que o dia permanecia cinzento, com aquele vento frio que me levava a um sentido nostálgico, uma contradição, porque ao mesmo tempo uma fagulha de felicidade e alegria transbordava. Olhava para o céu fechado e me perguntava o que se passava comigo naqueles arroubos.
Tantos e tantos anos depois, não poucas vezes me vêm à mente aqueles momentos. Afinal de contas, hoje, mesmo não tendo muito a me queixar, o enquadramento da vida é diferente. Ela é dura de ser vivida. As indagações de agora e daqui para frente são nada além de desafios que me assaltam e se perdem sem resposta. Nada sei, pouco sei dessas transcendências.
E foi num dia assim, meio fechado, sem mais transmitir aquelas inspirações de outrora que escrevi ETÉREOS, num sentido de que a vida pode prosseguir mesmo quando já se chega, digamos, ao ocaso.
Etéreos é a que mais eu gosto.
A borboleta é a alma que busca nesses remanescentes, a inspiração para prosseguir absorvendo o que de bom resta para viver.



ETÉREOS

Nessa de desânimo
apatia
Não sei o porquê
de tal melancolia
(ou nostalgia?)
Desmedida

Sei não!
Cadê a Inspiração
os elementos Etéreos?
Clamo, pois, só, no (meu) deserto
Respostas não vêm
Ilusões não há (mais).

Miro margaridas murchas
(bem-me-quer, bem-me-quer!)
Que se preparam para semente
Sinto o sol...
mas não me aqueço.
Num momento, surpreso
confuso
Sinto o Etéreo, porém.

Uma manchinha azul
No éter
Vindo, chegando, esvoaçando!

Ora, uma simples...
Borboleta...azul!

Ela dança nos meus olhos
Solene, encantada, frágil
magnífica, rebrilhante...
E pousa, então...
na margarida
a mais desfeita
na gema amarela.
(apenas três pétalas ressequidas)

Apreendi logo
o valor da escolha...
Da borboleta azul
Etérea
tão tênue
tão efêmera
Bem vinda...

Porque na margarida
murcha
na gema
Ela sentiu a vida
(ainda)

Assim falava ela
a borboleta azul
Etérea
na minha nostalgia
(ou melancolia?)
Naquele dia...

22/08/2009

SIMPLICIDADES


Eu e minha cadelinha preta, "prisioneira".



















I – Soberbas e tédios

Profissionalmente enveredei para as relações trabalhistas. Ligadas à área de recursos humanos, elas “administram” conflitos internos e os de fora dos muros, as querelas de natureza jurídico-trabalhistas e sindicais.
Envolvi-me tanto com essa área que acabei escrevendo, digamos, um livro.
Na última e derradeira edição, depois de muitos anos de experiência em multinacionais, tantos seminários que em nada alteravam seus desvios porque geralmente dirigidos aos subalternos e não à cúpula dirigente a quem caberia, eventualmente, mudar alguma coisa, inseri um texto sobre administração de relações trabalhistas que tratava de três princípios: o da autoridade, da transparência e o da simplicidade.
Quanto a este último, coisa meio utópica, assim me referi:
“A simplicidade, pois, começa na maneira aberta de encarar os problemas, as indagações e, principalmente, as sugestões como se, a cada dia, todos pudessem aprender com todos. Claro que, nesse compasso, deve predominar o princípio da autoridade, que decide com participação. O autoritarismo decide isoladamente.”
Nos debates e conflitos que todas as empresas têm, muitas vezes me vi, naquelas reuniões tensas, sendo condescendente com aspirações dos operários e, na medida do possível, as defendia mostrando lados menos selváticos.
Raramente fora entendido por eles. Não poucas vezes, nas portas dos banheiros da empresa, meu nome escrito precariamente era mal adjetivado, claro que por não saberem esses detratores, o que se passava nos bastidores.
Encolhi-me perante posicionamentos gerenciais que entendia incoerentes a que me obrigava, obviamente, a suportar. Tédios, diante da soberba. E nesse quadro, quantas vezes cumpri decisões amargas. Só um demitido surpreendido conhece a amargura da demissão.
Por tudo isso assumi uma dose de simplicidade pessoal, assim que pude. Hoje, a pratico até na profissão. Salvo situações específicas, não me inibo de sair pelos fóruns de calça “jeans” e sapato largo sem meias, “desafinado” perante advogados elegantemente trajados.
Mas, alguém me aponta o dedo e diz que no meu modo “simples”, há uma dose velada de arrogância que transpira. Tenho me questionado sobre isso. Reflito.

II – O ideal numa ficção

Valho-me, então de um personagem fictício de longa crônica que, aliás, está na íntegra neste espaço em edições anteriores.
O antigo executivo, que chamarei apenas de R, um dia, bem de vida, larga tudo e vira pescador medíocre no litoral de São Paulo.
Reformulei o texto e o resumi. Ao ser indagado sobre sua atitude modesta numa palestra para humildes ouvintes:
- Mas, o que parece certo é que a soberba é mais agressiva, mais ambiciosa, assustadora e predomina no mundo. Eu sei disso porque convivi nesse mundo de competição e posso dizer que combati a soberba com soberba. Sendo a soberba uma não virtude, digamos, ela tende a manter as desigualdades subestimando valores, as virtudes da lealdade do altruísmo. A modéstia contrapõe-se à arrogância e à violência. Proponho, pois, um mundo “modesto”? Uma utopia? Trazer o céu para a terra?
Não bem isso. Seria uma impossibilidade. Sabemos que nosso mundo é naturalmente o mundo das desigualdades. Cultivada, porém, numa permanente autocrítica, possivelmente fizéssemos o mundo apenas um pouco menos desigual, um pouco menos doente. Mais altruísta.
Depois de uma pausa, olhando fixamente para seus ouvintes, em tom solene:
- Não pensem os senhores que atingi esse nível de “modéstia”. O que acabei de lhes relatar é, sobretudo, uma aspiração pessoal que tenho em mente. Não sei se chegarei um dia a tanto.
Essa foi a última resposta que R deu. Acenou para todos e exclamou: paz!
Ao sair foi rodeado pelos seus ouvintes, recebendo-os com um sorriso, aqueles mesmos que, quando executivo, dificilmente dele se aproximariam.


III – A soma de todos os valores

O meu maior despojamento, talvez, naquele sentido de desapossar-se de vaidades, dá-se sob um pé de atemoia num banco de granito que instalei. Foi nesse canto que consegui ler “Guerra e Paz” de Leon Tostoi, nas suas mil e tantas páginas
Tenho carinho pela atemoia porque ela floresceu de semente que plantei e acompanhei desde o primeiro brotar. Seus frutos são amanteigados e “valem por um almoço”.
Levanto-me e vou a dois passos ao acolhimento do pé de amora. Colho algumas já maduras. Quem na infância não comeu amora do pé, faltou alguma coisa à infância.
Amoreira. Humildade. Contém “amor” em seu nome. Daí as “amor-as”. Em gotas.
Ao lado dela um é de romã dando frutos – cuja muda transplantei de uma pequena saliência numa calçada qualquer -, um de pitanga graúda. Do lado esquerdo dois pés de mexerica que produzem muito. À frente, um pé de manga “tomy” em flor que promete mangas temperadas com açúcar da melhor qualidade. Ao seu lado uma árvore sem identificação, cujas folhas amassadas cheiram fruta, mas que se resignam a espocar apenas umas flores bem modestas e pequenas. Também a transplantei de cantos de calçada. E uma ameixeira.
Aos meus pés minha vira-lata preta, ainda ativa embora já com seus 17 anos. Verdadeira prisioneira sobre quatro muros, embora tenha espaço para se movimentar nesse quintal, esfregar-se na grama. Nas suas idas e vindas sedimentou trilhas arredondadas, desvios e só por essa “rota” caminha.
Estou aqui com ela, penalizado porque reconheço sua angustia de ali permanecer, com pouco carinho e a festa que faz quando vou visitá-la. Tenho ido menos pelos meus compromissos profissionais meio moído pelo cansaço e desgastes.
Mas, se vou, é só amor que transparece de seus olhos já não tão brilhantes rodeando o banco de granito esperando alguma ação minha, além do agrado que não renuncia.
Comecei a levá-la a passear nas redondezas. Quero retribuir um pouco seu amor incondicional e não ficar pesaroso se ela se for...antes de mim.
Nesse meu quintal de uns 450 metros quadrados, só me deparo com plantas que dão frutos sem nada pedir e uma cadelinha pronta para retribuir tudo o que puder ainda que pouco receba.(Leia "Vida de cachorro" em http://prosaeversodeboteco.zip.net)

Estou ali rodeado de exemplos vivos de simplicidades, humildades, amor desprendido. E paz.

26/07/2009

CRÔNICA PAULISTANA




















Foto: www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/sao-paulo/catedral-da-se.php


CATEDRAL DA SÉ - SP

Já faz algum tempo, obriguei-me a excursionar pelos principais pontos turísticos de São Paulo, porque me desatualizei dela.
Haveria que encontrar na velha São Paulo algumas relíquias dignas que amenizassem esses tempos amargos. Encontrei sim, mas é inevitável reviver os antigos encantos.
Não faz muito nos rumos de São Caetano, perdi-me entre aqueles viadutos no final da avenida Nazareth, no Sacomã e tomei o sentido da Estrada das Lágrimas.
Via feia e sem cor, sem verde. Já cedo, havia lá na frente uma batida de carros, fazendo o trânsito mais lento na estrada tão estreita. Acordei dessa letargia do monóxido de carbono já com os pulmões desabituados de tanto peso, bem defronte à Igreja de Santa Edwiges, a padroeira dos pobres e dos endividados.
Essas impressões me marcaram tanto que saiu o seguinte poema:

Orquídeas e beija-flores

Eis-me aqui amargurado e pensante
Mal respirando nesse clima insano,
Tudo que exala desse meio paulista urbano
Envolto na fuligem dessas chaminés rasantes.

Que mundo é este de dura resistência!
Que mundo é este de intensa incerteza
Que mesmo à reação da pródiga natureza,
Ampliam-se os desertos por abusada inconsequência?

Que mundo é este de ganância e escuridão,
Que princípios postos pouco ou nada valem?
Se de tudo que inspira sucumbe, porém,
Nessa sanha caótica de destruição?

Reajo impotente qual um conformado perdedor
Sonhando acordado, no tráfego, quietamente,
Vendo desabrochar orquídeas no fundo da mente,
Visitadas por beija-flores em doce torpor.

E assim, no interior de minh’alma triste
Revela-se que tais doces criaturas, parece,
De Deus, são o preferido passatempo, uma prece,
E somente por essa dúvida a esperança persiste.

Esses instantes de valor e Paz perdem-se na poluição,
Sobressaltado não pela água límpida irradiando o sol,
Mas pela barulhenta abertura do farol,
Cujo verde não é o das matas que clamam proteção.


Arrependi-me de nunca ter conhecido o interior da igreja, porque em frente, do outro lado da Estrada das Lágrimas, havia um barranco onde era possível se abastecer de água potável de uma nascente.
Geralmente ao anoitecer, enquanto os recipientes enchiam lentamente, ficávamos mirando o céu estrelado, quem sabe flagrando o risco brilhante duma estrela cadente. Muitas vezes elas deram o ar da graça. E no instante, o augúrio forte de um desejo profundo lançado no éter. Naqueles tempos não tão distantes. Ah, as nostalgias!
Hoje, por aquele lado onde havia a bica, se ingressa na Favela do Heliópolis, uma das maiores de São Paulo. Haverá a santa Edwiges que se desdobrar muito em ouvir os pedidos de seus moradores vizinhos...
Uma outra lembrança forte era visualizar a Praça da Sé da esquina da rua Tabatinguera (em Tupi, "local de muito barro e abandonado"), quando havia uma franca separação com a Praça Clóvis. Era uma espécie de porta pela qual se descobria a leveza da grande cidade. Hoje a Praça da Sé reúne todos os tipos humanos, entre camelôs, desocupados e até turistas.
Pelos mesmos motivos – ou talvez porque passei pelo tempo – não tenho mais o encanto em caminhar lentamente pela Barão de Itapetininga, observando rostos que passavam por mim, dando-me consciência de minha individualidade esse sentimento de aparente separação entre os semelhantes. Aparente, apenas. Mas, o tempo passou. Sinto um ar de indiferença, de angústia, um obstáculo à solidariedade silenciosa que eu pressentia naquelas andanças despreocupadas. Uma cidade circunspeta!
Não perco a esperança, porém. Volto-me, como sempre faço, à serenidade da Catedral da Sé.
Num desses dias de fuga descobri que no seu pórtico, há imagens de animais da fauna brasileira, do tatu, do tucano, da garça e do lagarto. Há figuras em relevo da uva, do cacau, do milho, do café, do maracujá. Um sentido de brasilidade naqueles idos, transcrito nas reentrâncias do igreja que começou a ser construído em 1912 e somente inaugurado em 1954, nas comemorações do 4° centenário de fundação da cidade. E, pelo que se vê da devastação, um alerta à preservação.
Na cripta estão os túmulos de (quase) todos os bispos e cardeais que comandaram a Catedral. Mas, esse local sob o altar-mor não assusta. Ao contrário, acalma. O mistério da vida e da morte que nos desafia lá está. O tempo que nos leva continuamente à grande interrogação: o sentido da existência...
Há dois túmulos que chamam a atenção:
O do cacique Tibiriçá que lá está porque muito ajudou na colonização paulista, aliado dos jesuítas, defensor das terras de Piratininga (aldeia indígena guaianá existente na região de São Paulo, chefiada por ele) contra os ataques de outros indígenas hostis. É proclamado como o primeiro cidadão de São Paulo de Piratininga.
O outro é o de Bartolomeu de Gusmão religioso jesuíta que viveu de 1685 a 1724. Nascido em Santos e falecido em Toledo na Espanha, esquecido, fora um inventor talentoso, tendo construído o primeiro balão (aeróstato) que subiu na atmosfera, impulsionado pela leveza do ar quente. Sua pioneira “máquina de voar” surpreendeu a corte de Dom João V, em Portugal.
Estaria esse túmulo deslocado daquele ambiente?
Pois não é na Catedral de Florença que se instala o túmulo de Guglielmo Marconi, cientista italiano, não religioso, bastante ligado ao fascismo? Estarei enganado? Só que Marconi, para resumir, é o descobridor da transmissão sem fio – do rádio. E os agentes de turismo exaltam os seus feitos na visita a essa Catedral.
Mantinha um certo peso na consciência por me deslumbrar pelas cidades européias. Daí a volta à minha cidade maltratada
Essas relíquias, pouco valorizadas ou desconhecidas são seus elementos extrínsecos. Intrinsecamente há uma leveza naquele ambiente, contrastando com a agitação da cidade lá fora, porque, sobretudo, na sua estrutura tão cheia de entrâncias e ornamentos, de belos vitrais e altares é uma casa de oração. Democrática. Pessoas preocupadas e contritas lá se ajoelham humildes na oração.
Isto tudo me anima a sempre pensar em novos recantos disponíveis, belos, agradáveis, dessa cidade tão sofrida, assustada quanto trabalhadora.
E os há. Basta procurar.