03/03/2012

VALORES E PENSAMENTOS QUE DESAFIAM (e até “incomodam”)

Esta crônica, escrita em dezembro de 1998, que contém “valores ideais”, em cada instante se chocam eles com o dia-a-dia do próprio cronista atônito. Ela antecedeu à crônica, “Dos sem religião – Aqueles que acreditam mas não professam” de 27.02.2009. Foi nessa crônica que me proclamei "agnóstico moderado". Contradições que assumo porque nada sei.

Um brocardo popular consagrado, que insere certo chamamento para as coisas da vida diz: "deste mundo nada se leva".
De tal simplicidade, constitui-se num verdadeiro axioma. Da matéria nada se leva: deixam-se aqui somente lembranças, intensas ou não, segundo a forma de viver imprimida pelo desaparecido. (1)
E são exatamente esses aspectos que chamam a atenção para uma maior reflexão. Ao longo dos séculos o homem, à medida que vai adquirindo conhecimento dos fenômenos exteriores, acaba se questionando sobre algumas perguntas que, para muitos, tornam-se angustiantes: "Quem sou eu? Donde venho e para onde vou? Porque existe o mal? O que é que existirá depois desta vida?" (2)
Essas indagações que se manifestam na interioridade do ser humano, encontram-se nos escritos sagrados de diferentes correntes religiosas e filosóficas e de filósofos do calibre de Confúcio, Platão, Aristóteles... (3).
E acima de tudo, mais que uma recomendação, quem sabe um apelo, a inscrição "conhece-te a ti mesmo", esculpida no arco superior (dintel) do templo de Delfos. (4)
Essas questões maiores, porém, parecem estar reprimidas na intimidade de cada um. Demais, essas reflexões quando assomam tendem a elevar a mente perplexa para uma indagação ainda superior que se perde no silêncio: quem é Deus?
Mas, neste mundo em que os interesses maiores são as proposições econômicas e a sobrevivência, o dia-a-dia, o que já não é pouco, tais valores e mesmo Deus, têm ficado em segundo plano.
Daí decorrem duas situações que podem ser comparadas a episódios bíblicos: a adoração do "bezerro de ouro" pelos judeus, enquanto Moisés conversava com Deus no Monte Sinai e a "confusão das línguas" em Babel.
Embora se reconheça que haja uma intensa procura pela espiritualidade no mundo pelas religiões que nascem, vem predominando, ainda e há muito, agora com maior ênfase, a linguagem do dinheiro, dos índices das bolsas de valores, o "bezerro de ouro" e, claro, resultando na confusão, no desentendimento, na angustia entre os países. Confusão das línguas...
Nestes tempos, esses valores superiores têm sido invocados tão somente naqueles minutos que duram um ato religioso, um sermão, uma meditação. A partir daí, porque não há tempo para questionamentos em profundidade, ao dar-se de ombros para o "conhece-te a ti mesmo", volta-se para o mundo do chão batido, dos juros e dos rendimentos.
Mas, a 'língua universal' que traz a compreensão, é a da espiritualidade, do amor e da solidariedade. Com certeza aquele que se esforça para cultivar esses valores sabe que seus compromissos não se encerram num momento de oração. Ele agirá com esse sentimento não só perante seus semelhantes, mas também amando a natureza, que alguns chamam de "mãe".
Os desvios de valores, o cavoucar no garimpo da riqueza vazia, tem trazido também imensos prejuízos ecológicos à fauna, à flora, à atmosfera, aos rios e oceanos que recebem cada vez mais imensas cargas de detritos e poluentes, em quantidade tal que impede a química natural da recuperação: "Em vez de realizar o seu papel de colaborador de Deus na obra da criação, o homem substitui-se a Deus, e deste modo acaba por provocar a revolta da natureza, mais tiranizada que governada por ele". (5)
Esses todos que superam as agruras do cotidiano, precisam falar abertamente em amor, solidariedade, na falta que Deus vem fazendo nas relações entre os homens e na preservação da natureza, no respeito que merecem todos os seres que ela protege galhardamente, a despeito da ação destruidora do homem.
Será neste mundo, que nos conheceremos a nós mesmos se assim desejarmos ou nos esforçarmos. Por isso, deveremos cuidar que haja um sentimento equilibrado para que as gerações futuras o herdem. Há tempo ainda.
Porque à nossa volta há ainda resquícios do paraíso - imerecido - que foi este chão que estão sendo gradativamente destruídos por nós, agressores inconsequentes, mal-agradecidos, decaídos.
Mas, o "conhece-te a si mesmo" é um apelo à reflexão sobre esses valores que assaltam a alma com menor ou maior intensidade, porque aqueles outros do mundo ao alcance da mão nada levaras. “Tenho dito”.

Legendas:


(1) V. “Da vaidade ao pó (Reflexões sobre a “terra prometida”) de 24.04.2011.
(2) V. “Enigmas, penitências, I Ching” de 05.02.2012.
(3) Encíclica “Fé e Razão” do papa João Paulo II
(4) Plutarco (46-120 d.C.) deixou um extenso testemunho sobre o funcionamento do oráculo (de Delfos). Descreveu as relações entre o deus, a mulher e o gás, comparando Apolo a um músico, a mulher a seu instrumento e o pneuma (gás, vapor, respiração, daí as nossas palavras “pneumático” e “pneumonia”) ao plectro (varinha para vibrar a lira) com o qual ele a tocava para fazê-la falar. Plutarco enfatizou que o pneuma era apenas um elemento que desencadeava o processo. De fato, era o treinamento prévio e a purificação (que incluía, certamente, a abstinência sexual e, possivelmente, o jejum) da mulher escolhida que a tornavam sensível à exposição ao pneuma. Uma pessoa comum poderia sentir o cheiro do gás sem entrar em transe oracular.
Plutarco também relatou algumas características físicas do pneuma. Seu cheiro assemelhava-se ao de um delicado perfume. Era emitido, “como se viesse de uma fonte”, no ádito (no caso, câmara sagrada) em que a pitonisa estava acomodada, mas os sacerdotes e as pessoas que iam consultá-la podiam, em algumas ocasiões, sentir o aroma na antecâmara onde aguardavam as respostas.
A ÚNICA REPRESENTAÇÃO (acima) da sacerdotisa, ou pitonisa, de Delfos, da época em que o oráculo estava ativo, mostra a câmara de teto baixo e a pitonisa sentada em um trípode. Em uma das mãos ela segura um ramo de louro (a árvore sagrada de Apolo); na outra ela segura uma taça contendo, provavelmente, água proveniente de uma fonte e que penetrava, borbulhando, na câmara, trazendo consigo gases que levavam a um estado de transe. Esta cena mitológica mostra o rei Egeu de Atenas consultando a primeira pitonisa, Têmis.
A peça foi feita por um oleiro ateniense em torno de 440 a.C.

Fonte: http://www.philosophy.pro.br/oraculo_de_delfos.htm.
V. “Minha entrevista com Sócrates” de 16.10.2011
(5) Papa João Paulo II, Carta Encíclica "Centésimo Ano" de maio de 1991.

Foto:
"O Pensador" (francês: Le Penseur) é uma das mais famosas esculturas de bronze do escultor francês Auguste Rodin de 1902 (Paris). "Retrata um homem em meditação soberba, lutando com uma poderosa força interna." (Fonte: Wikipédia)

21/01/2012

SANTOS DUMONT vs IRMÃOS WRIGHT. Pioneirismos

Lembro-me que a primeira vez que entrei num avião, trabalhava numa multinacional e, principiante, havia que cumprir uma audiência em Belo Horizonte.
Ficava imaginando como me comportar no avião. Entrei naquele “pássaro”, trêmulo e cheio de dúvidas.
Minha ansiedade foi ao extremo no momento em que ele se pôs em movimento e em minutos cortava as nuvens.
O avião tremia um pouco. Eu olhava para baixo angustiado com minha acrofobia (medo de altura) não conseguindo entender como um mostrengo daqueles permanecia apoiado no nada, no éter.
Demorei em me acostumar com essa ideia, com a ideia desses aviões cada vez maiores transitarem pelo ar com absoluto equilíbrio, carregando toneladas e toneladas não só pelo seu próprio tamanho, como centenas de passageiros e respectivas bagagens. E cargueiros enormes.
Assim, me empolgo com aviões, preferentemente quando fora deles. Mas, já levitei dezenas de vezes da poeira onde se assentam os pés.
Acho até hoje avião “impossível” mas quantas vezes já singrei os ares com essa impossibilidade!
Pois bem, outro dia, um canal a cabo exibiu as 100 invenções que mudaram o mundo.
Uma delas era o relógio de pulso, “oficializado”, por Louis Cartier, porque um aviador, “informava” o documentário, havia pedido ao joalheiro que fizesse um novo modelo porque na condução de seus balões as mãos ocupadas não podiam manejar relógio de maior padrão.
Não foi mencionado no documentário o nome do aviador, que no caso era ninguém menos do que Santos Dumont. O brasileiro é mui frequentemente, sempre que possível, ignorado em tudo que enalteça os seus méritos.
E a Wikipédia assim conclui a história do relógio de pulso:
“Cartier colocou então uma pulseira de couro num dos maiores modelos de relógio de pulso femininos da sua coleção, e em março de 1904 ofereceu-o a Santos-Dumont. Este episódio leva a que se considere Santos Dumont como o responsável pela popularização do relógio de pulso entre os homens.”
Tenho comigo velha edição da “Encyclopedia pela Imagem”, um trabalho publicado em fascículos pela Editora Lello, de Portugal, que circulou pouco tempo antes da década de 40 do século passado. Há que destacar que os fatos documentados sobre aviões estavam bem mais próximos dessas edições – pouco mais de 30 anos e menos quando naquela atualidade.
E ademais o texto é uma tradução de autor francês, o que garantiu alguns créditos aos seus patrícios, mas no que concerne ao aparelho dos irmãos Wright, o relato é o seguinte:
“Estes (os irmãos Wright) realizaram aparelho que era preciso lançar artificialmente, mas que podia voar e até levar um passageiro.”
Aparelho lançado...por catapulta...
Deu-se imensa publicidade, diz a velha enciclopédia, pelo que abafou todos os outros inventores e pesquisadores, inclusive os franceses. “Passava-se isto em 1908.”
Mas, diz o capítulo:
“Já em 1906, dois anos antes dos irmãos Wright, o ilustre brasileiro Santos Dumont efetuara em voo de cem metros.” (pelo sempre lembrado 14 – Bis).
Essas informações são imparciais e colocam as coisas nos seus devidos níveis. O avião dos americanos precisava ser lançado...

Mas, acompanhando o esforço americano e aliados em atribuir aos Irmãos Wright a invenção do primeiro avião que se alçara acima do solo em 1903 há comprovado o seguinte: até 1906, quando se deu o voo precário do 14-Bis, os irmãos Wright haviam aperfeiçoado tecnicamente seus aparelhos de modo superior ao 14-Bis. Por isso, só raramente o nome do brasileiro é lembrado como inventor do avíão e quando ocorre, é tratado como inventor coadjuvante.

E a enciclopédia, daqueles idos observava sobre o futuro:
“Assim, por progressos sucessivos, o homem chegou a realizar a conquista definitiva da atmosfera, deste elemento gasoso que lhe parecia vedado para sempre. E, finalmente, por um último esforço do seu gênio, elevou-se na atmosfera num aparelho mais pesado que o ar.
E este sucesso aumenta ainda mais as suas ambições. Já sonha ultrapassar o limite da atmosfera, que lhe parece agora uma prisão, ainda que outrora encarnasse a sua liberdade. Sonha em transpor as camadas aéreas, lançar-se no espaço à conquista de outros mundos, ir por pé nas “terras do céu”! Serão realizadas essas ambições? Sonhos, dizem uns. Esperanças, exclamam outros”.

E isso aí.

Imagem: Abertura da "Enciclopédia pela Imagem" no capítulo "A Aviação"

Estampa do 14-Bis (Wikipédia)

Talento brasileiro para a aviação. Avião Embraer 195

08/01/2012

NUM DOMINGO CHUVOSO. Reflexões. Dos que vão e não vão mais cedo


Até acho que já escrevi sobre domingos chuvosos, especialmente quando a chuva avança pela tarde naquelas horas em que pouca vontade há de se fazer alguma coisa. A preguiça. É domingo, deixa chover. O dia não é “feio”, como alguns classificam, apenas choroso.
Mas, no dia seguinte, quando o sol desponta pela manhã, parece que as árvores sorriem. Receberam seu prêmio.
Nesse 1° do ano, domingo, a chuva foi calma, o que me faz recordar cenas do cotidiano que eu não consigo explicar. Uma que sempre está comigo se refere à simplicidade extrema: duas garçonetes que não me lembro dos rostos, sequer, nos restaurante de uma multinacional para a qual trabalhei, elogiando uma jarra de inox como se um troféu. Por que essa imagem não se apaga?
Mas, nessa mistura de imagens, de repente caio num vazio, no vazio da absoluta ignorância. Não me ocorre, tal qual digo sobre a chuva, deixar a vida (também) rolar.
Não, não consigo. Não sei o que me espera o dia em que abruptamente ou pela velhice extrema deixar as surpresas e dores deste mundo meio sem sentido. Porque eu também faço a célebre pergunta, a pergunta que não quer calar, o que faço aqui? Encaro-me no espelho e confesso que muitas vezes não sei o que represento no meio dessas atribulações todas.
Se houver vida depois da passagem para o outro lado, como terei lá que viver? Afinal tenho por aqui, também, minhas delícias, minhas surpresas, delírios - converso com a Lua, a jarra de inox - e meus profundos desgostos. Terei o livre arbítrio de uma boa preguiça numa hora qualquer?
Mas, aprendi que a vida é assim, de delícias, estranhezas e desgostos. Por isso gosto de estar aqui.
As coisas são realmente complicadas, a partir das diferenças entre os semelhantes, alguns tão brutais que são menos semelhantes. Quanto já escrevi sobre isso! Quanto?
O que me chama mais a atenção e me põe sempre em alerta é a seleção aparentemente injusta dos que são chamados para entregar seus postos nesta onda de vida e partem para algum lugar – não sei que lugar é esse. Mas, há algum lugar?
Se der crédito aos sonhos, tinha um amigo que carregava algumas lesões congênitas que não permitiram que resistisse muito tempo e partiu. Um dia sonhei com ele: lá estava ele com seu rosto não muito definido, mas era ele, indicando que residia numa espécie de vila, com casas assobradadas, talvez geminadas com jardim e verde florido em volta. Será que as coisas são mesmo assim?
Que tipo de serviço será exigido de cada um nessa nova etapa?
Se aqui a regra é “trabalho”, não parece que nessas novas paragens para onde levados, serviços não sejam exigidos. Não acredito naqueles augúrios normalmente pronunciados: “descanse em paz”. Não creio que haja descanso. Paz, talvez...(?)
São mais que perguntas, verdadeiros dilemas que me assaltam.
Neste domingo de chuva, por acontecimentos de agora e do passado não escondo a perplexidade ao saber de amigos e figuras brilhantes, na faixa dos 40 anos, muitos saudáveis enquanto outros enfrentando graves doenças, dotados de conhecimentos a oferecer aos semelhantes mas que deixam a vida precocemente de modos diferentes. Alguns abruptamente num ataque impensado, impactante. (*)
Fora uma escolha proferida em outra escala?
Enquanto isso, no outro extremo idosos, que a muito custo mantém sua dignidade, nos desafiam a compreender esse critério de “escolha”...a dedo (?).
Seria uma advertência presente, que “a divina mente escola”, para lembrar de nossa fragilidade de um modo ou outro?
Que tudo deixamos nos lugares onde deixamos? De que fomos privados dos meios de haver com nossas coisas às quais nos apegamos?
Porque se trata de sono profundo que não nos é permitido acordar.. Romperam-se os fios. Há quem diga que vagamos no éter – por algum tempo...segundo o merecimento (?) Mas, há tempo?
Ficam as lembranças boas ou ruins entre os próximos mas que o tempo vai apagando. Inexoravelmente.
Estas questões todas voltaram a mim e me emociono com a minha ignorância nisso tudo. Serei digno, um dia em obter alguma resposta?
Provavelmente passado esse dia 1° do ano, o último de longos feriados, chamado para os meus serviços a que estou obrigado, pela vivência e sobrevivência, esqueça momentaneamente essas indagações todas.
Até o próximo 1° do ano, quem sabe, se der tempo.

(*) A propósito da morte precoce do jornalista e escritor Daniel Pizza, vítima de AVC aos 41 anos.
A poesia abaixo, que achei muito bonita, de autoria do amigo Caio Martins tem muito a ver com a crônica “Num domingo chuvoso”. Constitui-se outra forma de abordagem, variação do mesmo tema porque,
“O que corrói
é a espera...”

A ESPERA


Caio Martins


Te olhas ao espelho,
infinitesimal partícula cósmica:
- Que horror, a consciência do mundo!
Khronos, O Implacável,
comeu tuas façanhas,
as entranhas de teus versos
e não és, Poeta, senão
anti-herói de ti mesmo.
Feneceram-te musas e vestais,
as prostitutas do Templo
envelheceram...

- Que trágico! Que lindas... que loucas eram!

Aminimigos mortos
não tens mais batalhas:
as tuas guerras
perderam-se no pó da história
- da memória -
a esmo...

Nas tuas retinas estilhaçadas
não mais cabe o mundo;
ao redor ruge o caos
aos cacos.
Estás só!
A solidão, se nem a morte,
atemoriza... (Arre!)medos.

O que corrói
é a espera...

(img: cvm - estilhaços - 2012)

Fotos que ilustram a crônica são de Milton Pimentel Martins

25/12/2011

PEQUENAS REFLEXÕES, SIMPLICIDADES, COTIDIANOS

Perdões

Neste dia de Natal, não ligando nem um pouco para o papais nois, velhos garotos-propaganda do consumismo barato ou caro – afinal são eles intrometidos numa data que não lhes pertence - reflito sobre o perdão.
Do meu passado de infância e adolescência talvez me ressinta hoje e ainda de suposto não amor paterno por tudo que já escrevi. Mas, tantos anos depois, há um sentido de inocência nessas minhas suposições que devo aceitar. (1)
Pode até ser fácil perdoar, mas quão difícil esquecer. Aquelas sequelas ressurgem ao acaso, depois de tantas décadas ficadas para trás. Sei que as dores também devem prescrever, perder a validade. E olhar para o alto e obter um sentido transcendente das coisas, das experiências.
Sem nenhuma inspiração – porque não sentia na minha “alma” o que escrevera pelo que zero de inspiração e transpiração --, escrito apenas para preencher um espaço num livreto a que me obrigara (2), há décadas escrevi um poema sob o título “Compreender e perdoar”. Assim,
Que luzes são essas,
Quais são essas luzes
De tão magníficas cores,
Que invadem meu ser?
que aliviam a mente
animam viver?

Um quê universal
Algo místico, imaterial
Inspira amar
A sorrir, a rir sem cessar,
E a musa Natureza
A santa Natureza
Inspira compreender
E perdoar...

Que se pode esperar
Do homem animal,
Do pensamento material,
Do egoismo do racional,
Senão compreender
E perdoar?

Agradeço meu Deus,
Este momento,
Delicioso momento
Em que senti
Tão profundamente
Um pouco de Ti...
E compreendi,
E perdoei...

(1964)
Só me encorajei a divulgar esse poema porque hoje é dia de Natal, simbolicamente o nascimento de Jesus. E por ser o tema próprio para um dia como hoje.
Quanto ao futuro, espero que os meus descendentes não tenham sentimentos adversos quanto a mim, pelo que fui e sou e que sempre me perdoem.

Confissão

Se disser que sou próximo de Jesus e da religião, estarei faltando com a verdade. Quantas vezes me vejo cético por tudo o que já li e ouvi sobre sua alegada presença na Terra. (3)
Mas, por outro lado, nos meus momentos de angústia – e não foram poucos – ou de clamor psicológico invoquei seu nome e sua intervenção para vir em meu auxílio.
Feitos os clamores, as coisas melhoraram. Seu nome como uma oração deve soar no infinito da vida, como um mantra, desbravador ou ouvidor das agruras que atormentam a humanidade.
No meu silêncio, nos meus sonhos...

Abelhinha preta

Na véspera, estava acomodado no meu escritório, aproximou-se uma abelhinha preta, voando na altura dos meus olhos, até pousar no meu polegar, no exato momento em que lia a notícia dando conta que empresa de bebidas se responsabilizará em recolher todo o resíduo reciclável no próximo réveillon em Copacabana.

Sabia que na área verde aqui ao lado – parte dela foi “organizada e plantada” por mim e está bem arborizada – precisava de uma limpeza de garrafas “pet” e sacos plásticos, papeis.

Larguei o jornal e a abelhinha e fui para a área verde fazer a faxina.
“Fiz a minha parte”. Quase nada ou nada. Bom que se diga. Melhor não está porque ninguém faz a sua. (Assista na crônica anterior, "Apocalipse now", video "Arte do Lixo").
(Há alguns meses, um espécime daqueles marimbondos zangados, picadas doloridas, também insistiu em pousar na minha mão como se a beijasse – carinho que não merecia porque já agredi mortalmente seus iguais e fui atacado por eles - dolorosamente).
Já escrevi sobre uma dessas experiências com esses marimbondos. (4)

Águas de São Pedro

Devagar estou indo para os rumos da linda Águas de São Pedro, a 30 quilômetros de Piracicaba.
Na casinha em reforma, soube que mora uma família de lagartos.
Estou ansioso para saber que tipo de relacionamento terei com os lagartinhos e lagartões.

Essa casa tem até hoje uma placa em inglês “toca da coruja”. Mas, acho que o correto seria e será, “toca dos lagartos”.
Um dia conto o que se deu.

Amor-eira

Eu a plantei pequena, bem pequena – menos de um metro - e, embora com muita frequência perto dela, não a vi crescer...tanto.
Hoje, até ela faz sombra sobre o banco de granito que de certo modo abandonei. Foi nele, naqueles fins de tardes quentes que li boa parte dos dois volumes de “Guerra e Paz” de Tolstoi.
O tempo passou, mas não só por isso: havia uma companhia importante que se foi e que ficava comigo por lá, a minha velha cachorrinha preta. (5)
Hoje, chegando perto da amoreira, dois bem-te-vis saíram apressados de sua copa. Quem me dera eles não se assustassem com a presença suspeita. Quisera afagá-los. Mas, não é assim, a natureza os previne. Afinal, “o homem vem aí”. E com ele a maldade pode vir junta.

Legendas (crônicas relacionadas):

(1)“Fragmentos paternos” de 13.02.2011 e “Fragmentos maternos” de 08.05.2011
(2)“Versos para ninguém” de 19.04.2009
(3)"Dos sem religião" de 27.02.2009 e também "Enigmas de Jesus" de 25.12.2009 in www.votebrasil.com
(4)”Animais (zinhos) e bichos” de 10.04.2009
(5)“Dias amargos” de 28.11.2010 e “Mensagens e imagens” de 23.01.2011

Fotos e imagens:

(1) Flores “sempre-vivas”, sempre-vivo
(2) Imagem de Jesus receptivo fora da cruz
(3) A “minha” área verde que plantei
(4) Paisagem de Águas de São Pedro
(5) Amor-eira

13/12/2011

APOCALIPSE AGORA


Esta crônica foi publicada com o mesmo conteúdo em outro blog que venho mantendo, no qual a maior parte dos artigos e crônicas que lá escrevo, refere-se a temas políticos, sociais e ecológicos.
Para um blog “político” com assuntos “indigestos” devo reconhecer que esta crônica é até bem acessada.
Por conter identidade com estes “Temas”, divulgo-a aqui também com os ajustes que julguei necessários. (*)


Nem sempre o colunista consegue redescobrir suas fontes, aquelas informações que batem em sua memória, lidas nalgum lugar há décadas e que se perderam.
Mas, nesse passado numa publicação de assuntos metafísicos li que a Terra poderia suportar até seis bilhões de habitantes.
Há dez anos, essa marca foi comemorada, hoje já seriam sete bilhões.
Não de hoje, pois, tenho aquela marca na memória imaginando então, quando, atingida, quais seriam as consequências.
Curiosamente, nestes tempos de agora, na medida em que se aguça a predação ambiental, há um sentimento de que algo catastrófico vai ocorrer, algo apocalíptico, tendo como principal referência o calendário Maia que se encerra abruptamente em 21 de dezembro de 2012. Nessa data, o planeta seria então afetado por algum fenômeno natural catastrófico que modificaria radicalmente a vida conhecida, Isto é, destruição de tal ordem que a vida não seria mais esta como conhecemos.

Sete bilhões de almas realmente afetam do modo mais predatório as reservas ambientais.
Essa predação não se dá apenas pela sua necessidade em produzir alimentos e outras necessidades, mas também pelo que traz de prejuízo ambiental a tecnologia, a indústria, o lixo às centenas de toneladas.

Milhões e milhões de carros que exigem milhões e milhões de barris de combustível fóssil que por sua vez poluem a atmosfera em toneladas de resíduos.


E pior, na medida em que as necessidades de combustíveis se avolumam, a busca de fontes oceânicas tem sido desastrosa a mais não poder, com o vazamento de milhões de litros nos mares, afetando toda a fauna marinha por anos.
É afetada com essas catástrofes toda uma cadeia alimentar da qual o próprio homem dela se vale. Mas, enquanto disponível, geralmente a obtém com brutalidade, desprezando as vidas que ceifa em sua caça insana, sem sequer entender, de muitos desses animais vitimados, a própria inteligência e mesmo a aproximação amistosa que fazem perante o seu carrasco traiçoeiro. E são mortos brutalmente.

A escassez de água potável se constitui grave ameaça já havendo regiões miseráveis que não recebem ajuda ou a recebem de modo insuficiente e dela se privam sempre em maior escala.

Há a tecnologia que ativa a dessalinização das águas oceânicas que pode ser ampliada e minimizar sua escassez mas são imensos os investimentos.
Mas, não há mais tempo para suportar a poluição dos rios com esgotos e outros resíduos que tornam a água não potável, imunda. É premente a ampliação e aplicação de tecnologias do tratamento dos esgotos.
Sem qualquer propensão a levar tudo para o lado metafísico, digamos, é notória a correlação que se dá entre os vários elementos naturais. Essas destruições, o desrespeito à vida sem causa, provocam reações destrutivas num processo ‘incompreensível’ que o nosso modo de viver no dia-a-dia atribui de maneira simplista a fenômenos que sempre espocaram ao longo dos séculos e séculos.


O que se assiste, porém, é a frequência maior de pequenos e grandes eventos ditos naturais devastadores, como tsunamis, erupções vulcânicas, aquecimento global, secas, desertificações, devastações por chuvas intensas...


Há, efetivamente, indicações crescentes dos efeitos dessa desorganização ambiental que muitos não enxergam porque há a predominância da visão econômica da vida, do negócio, do consumismo e do “supérfluo necessário”, sem atentarem para os prejuízos globais que tais produtos e ações provocam no equilíbrio do planeta.

Os seis bilhões de almas, há dez anos alcançados, mantinham algum equilíbrio entre alimentos e meio ambiente. A fome em alguns países, na África, especialmente, não se dera pela escassez dos alimentos, mas por disputas políticas sórdidas que priva seres humanos do mínimo para sobreviver e também pela falta de ações solidárias de quem poderia ajudar.


Nessa linha do lucro e da linguagem do dinheiro, as florestas vão sendo devastadas, não só por conta dos pastos abertos em grandes extensões para criação de gado, mas também por exigência de amplos setores industriais.
Mas, tantos vivendo só no presente, ignorando as conseqüências no futuro, há que propagar que a preservação e reposição vegetal são essenciais para equilibrar o clima do planeta, ajustando na contrapartida técnicas do aumento da produção de alimentos nas áreas já reservadas ou devastadas.

Vive-se, nestes tempos, verdadeira babel consumista. Quanto de equipamentos desnecessários nos foram "vendidos" como essenciais a ponto de nos acostumarmos com seu uso e, mais, pelo rápido avanço tecnológico serem trocados sistematicamente por novos modelos, engrossando as pilhas de produtos obsoletos descartados. (Assista video "Arte do Lixo" abaixo).


Nem mesmo no âmbito econômico, há segurança. Os Estados Unidos em crise ainda gastando fortunas nas guerrilhas do Iraque e do Afeganistão - guerras perdidas de um modo ou outro porque as facções que se opõem à paz são criminosas sem aquela lógica ocidental em aceitar certos valores.
Aonde se situará a China, grande poluidora, até aqui indiferente aos apelos de contenção, com seus 1,3 bilhões de habitantes? Com sua produção industrial predatória? A própria Índia.
As dúvidas não param aí. Com tantas incertezas, se nada ocorrer em dezembro de 2012 nessa eclosão apocalíptica alimentada pelas grandes redes de comunicação mas que a muitos aflige como algo inevitável que merecemos passar, com certeza teremos que nos preocupar com o futuro de nossos filhos e netos.
A vida vai ser difícil de ser vivida, cada vez mais, mesmo com muito otimismo.

Esperança
Paisagens que ainda temos para contemplar.


(*) Crônica que tem relação com esta: "Qual será o nosso amanhã. E as previsões tenebrosas" de 15.06.2013

Legendas

(1) Ruas lotadas em Ambassador - Calcutá, Índia - mistura de carros, pedestres e ambulantes (foto de Randy Olson - National Geografic)
(2) Trânsito em São Paulo - Dia cinzento (Fonte: Jornal do Advogado de novembro de 2011, ilustrando artigo sobre a poluição e a relação com as doenças respiratórias)
(3) O petróleo e a sujeira nos mares, inclusive do Brasil, na Bacia de Campos - RJ (foto Google)
(4) Esgoto despejado no rio (Foto Google)
(5) Tsunami no Japão em 2011 (Google)
(6) Fome no mundo (Google)
(7) Dia de compras na rua 25 de Março / SP (Foto de Ricardo Correa - Revista Exame)
(8) Cataratas do Iguaçu (Google)

27/11/2011

MEUS FANTASMAS, MEUS SUSTOS, SONHOS...

Fantasia

Por muito tempo procurei o DVD de um filme produzido por Walt Disney na década de 40, “Fantasia”. (*)

Tenho ainda na minha imaginação alguns sons e imagens que ficaram e ficarão para...sempre (!)
Criança com meu pai – que era apreciador da música clássica – fui a algum cinema em São Paulo e me deslumbrei com Mickey o aprendiz de feiticeiro (ao som da música de mesmo nome de autoria de Paul Dukas) que aprontara uma confusão mais ou menos com uma vassoura que enfeitiçara para ajudá-lo a carregar baldes e baldes de água e não sabia como reverter a mágica quando o descontrole deu em inundação.
Muitas são as músicas clássicas aproveitadas no desenho magnífico, interpretadas pela Orquestra Sinfônica da Filadélfia sob a regência do consagrado maestro Leopold Stokowski.
Nada me empolgara muito, na verdade. Naqueles idos havia passagens sonolentas. Fixara-me nos desenhos e nas figuras de certo modo como fazia com os desenhos do bisavô pica-pau (woody woodpecker)
Uma música de destaque em “Fantasia” é a “Pastoral” de Beethoven que ouvira muitas vezes em minha casa, tocada naqueles vitrolões nem sei se hoje relíquias de museu, com aqueles discos ainda precários, mas audíveis. “Pastoral” é remetida para animar figuras mitológicas, pegasus, faunos, centauros desenhados com esmero e graça.
Pois bem, um canal a cabo outro dia programou o filme Fantasia.
Todas aquelas lembranças verdadeiras, a ida com meu pai ao cinema que, se bem me lembro, com ele assisti também Shane.
FANTASIA evoca para mim o que de melhor, num tempo de menos malícia.

O video apresenta cena inspirada na música "Sagração da primavera" de Igor Stravinsky
(*) O filme Fantasia teria sido restaurado e relançado em DVD em 2011

Meus fantasmas


Ao longo da minha vida, desde a adolescência me deparo com meus fantasmas.
Já muitas vezes relatei alguns eventos que se deram comigo, terrores, acordado e sonhando.
Naquelas noites, já tarde, vez por outra flagro vultos me encarando.
Não fazem mal e nem me induzem ao mal pensar. Nem se apresentam tão nitidamente a ponto de me assustar se me deparo com essa (estranha) realidade.
Já tarde da noite, fecho uma porta no escuro e ao me virar lá está outro vulto. Me arrepio, mas vou em frente.
Num desses silêncios com a mente perdida no seu universo alguém que não vi me fala aos ouvidos:
- Ih, esse vai ser meu avô.
Tenho filha e filhos que serão mãe e pais daqui a alguns meses.

Susto

Naqueles idos bem vividos, num bairro periférico de São Caetano do Sul, havia um campo de futebol que, quando chovia – e chovia muito atraindo a saparia que coaxava por noites e noites, até que o brejo secasse.
As ruas não eram calçadas e as noites eram escuras.
Ali times varzeanos cumpriam jogos emocionantes naquele e outros campos.
Quando encharcado, a molecada usava metade daquele campo para as peladas empolgantes.
Já disse que nunca comecei uma briga.
Numa dessas partidas havia um adversário que me encarava um pouco além do jogo. Era o P...
Ele estava ansioso em trocar uns sopapos comigo. Tanto fez naquela manhã, que conseguiu. Formou-se a roda e até com facilidade eu o dominei e não me propus a dar-lhe surra memorável. Ele entendeu e passou a me evitar.
Alguns anos depois, andando preguiçoso numa manhã por uma das principais ruas da cidade, em direção contrária vinha um sujeito alto, mulato, cabelos crespos, modestamente vestido cujo rosto não me era estranho.
A poucos metros até ele um carro da polícia parou exatamente ao meu lado, desceram apressados policiais com armas em punho ameaçadores vieram ao que parecia em minha direção.
Entrei em pânico, sem saber o que acontecia e o que esperar.
A bronca era com o P...

Foi dominado, algemado e posto encolhido no camburão. Os policiais indiferentes ao meu susto, voltaram para a viatura apressados. E partiram.
Nunca mais o vi. O P...

Loira de blusa verde


Jovem loira bonita, simpática e pelo que ouvi conversava um “papo cabeça”. Blusa verde bem decotada seios pequenos que não destoavam de sua beleza. Se loira inteligente não se valerá do artifício do silicone.

NOTAS GRAVES

Baleias e golfinhos mortos em ritual degradante

Moradores das Ilhas Faroe participam de caçada a baleias "piloto" durante o tradicional ritual Grindadrap de "caça a baleias", nas proximidades da capital Torshavn. Os habitantes da ilha, uma província autônoma da Dinamarca, matam e comem baleias "piloto" todos os anos. Também golfinhos são barbaramente trucidados.
No ritual satânico anual que ocorre na Ilha, centenas de baleias “piloto” são massacradas, tingindo a praia do vermelho do sangue dos animais. E todos aqueles insanos comemoram a matança, não poupando nem mesmo as crianças. Provavelmente elas deverão no futuro continuar o ritual satânico enquanto não houver um basta da Dinamarca omissa – considerada altamente civilizada. E mesmo a intervenção de outros países ainda que menos civilizados mas com alguma consciência pelo horror da barbárie infernal praticada nas Ilhas.
E há ainda quem pergunte, nas tragédias que vitimam a humanidade, “onde estava Deus”? Os elementos da natureza cobram um preço pelo que de sórdido aqui se pratica.
As Ilhas Faroé são um arquipélago dinamarquês (território Autônomo) do Oceano Atlântico com 1400 km2. A capital é Torshavn na Ilha Strm. Situado entre a Islândia e Escócia é constituído por 18 ilhas e ilhotas de origem vulcânica.

Esperanças e ternuras


Filhote de veado assustado é capturado e recebe carinho

Em Piracicaba, no Horto de Tupi (bairro da cidade) foi capturado um filhotinho de veado por um morador, preocupado que ele corresse nos rumos da rodovia. Diz a notícia que o animal “estava assustado e chorava bastante.”
Por conta da quebra de seu habitat, esses animais aparecem frequentemente por ali.
O bichinho levado ao Zoológico, devidamente examinado, não apresentava ferimentos e estava bem de saúde: “no local recebeu carinho do veterinário e biólogos. Tão logo terminasse o exame, receberia alimentação própria para a espécie e que é misturada ao leite”.

Usina de Belo Monte - Repúdio (Atores globais)


Fotos / Legendas

(1) Capa do DVD das músicas de "Fantasia"
(2) Mickey e a dança das vassouras enfeitiçadas
(3) Rua Manoel Coelho - São CAetano do Sul. Bem a direita se deu o evento relatado
(4) Matança das baleias nas Ilhas Faroé (Foto: Andrja Ilio / Reuters via UOL)
(5) Gazeta de Piracicaba de 26.11.2011 – Foto de Christiano Diehl Neto (na foto PM Ambiental Albuquerque com o bichinho salvo)

13/11/2011

SUPERSTIÇÕES: A besta e o 13

Nesta semana, deu-se o 11.11.2011 ou 11.11.11 constituição numérica que muitos consideraram de sorte, de bons fluídos, de boas esperanças.
Nesse dia, uma sexta-feira, esse data passou, para mim, despercebida por conta das minhas tarefas profissionais.
Afinal de contas o meu escritório, só meu, é também um refúgio onde muitas vezes até medito entre uma demanda e outra.
Nos revezes naturais da difícil profissão costumo dizer, apontando um canto da sala que ali bato a cabeça, para me resignar ao insucesso que pode nem ser definitivo.
Mas, no dia seguinte, estarei de volta para pensar como resolver da melhor forma o não êxito.
A propósito de amuletos e superstições sou completamente indiferente.
Mas, vejam, por conta, exatamente de meus apelos profissionais tenho diante de mim uma disposição legal que me interessa muito, porque vem em abono da minha “tese” que é identificada pelo número 666.
Bem poderia ser 665 ou 667 mas o número 666 existe e tenho que conviver com ele.
Todos sabem que esse algarismo, no capitulo bíblico do Apocalipse identifica a besta. Nestes termos:

13.16 E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na mão direita ou na testa,
13.17 Para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome.
13.18 Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, porque é número de homem; e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.


Há interpretações desse texto qualificando o imperador Nero como a besta na sua época. E há interpretações que dão conta que, neste mundo atribulado representaria o anti-Cristo.
E supersticiosos “maiores” que veem o 666 em toda parte, em muitos gestos espontâneos.
Mirando o dispositivo de natureza jurídica com esse número, ignorei todas essas questões religiosas ou azares e dele me vali com toda força.

Imaginei naquele momento contando determinados objetos e, no seu final, apurasse 666 unidades. Não adiantaria disfarçar ou dizer que não eram 666, mas 667. Não, porque o número existe e não pode ser omitido, substituído por 665 + 1 ou 667.

Não, mesmo?
Eis o que relata a Wikipédia:
“Os números 13 e 666 retêm um significado peculiar na cultura e psicologia das sociedades ocidentais. É perceptível como muitos tentam evitar os supostos números de "azar" 13 e 666; e as fobias a esses números são chamadas de "triscaidecafobia" e "hexacosioihexecontahexafobia", respectivamente. Por exemplo, quando a gigantesca fábrica de CPU Intel introduziu o Pentium III 666MHz em 1999, eles escolheram para o mercado o Pentium III 667 com o pretexto de que a velocidade 666,666 MHz teria mais especificamente proximidade ao inteiro 667 do que o inteiro 666 MHz. Curiosamente, também, da mesma forma a empresa desenvolvedora de softwares Corel, ao lançar o que seria a versão 13 do seu conjunto de ferramentas para editorações gráficas, os lançou batizando-os de CorelDraw Graphics Suite X3, que é a versão 13 e posterior à versão 12, caracterizando assim sua superstição ao número.”

As superstições estão aí. Nos casos acima relatados, as empresas usaram 666,6 e “arredondaram” para 667 e no tocante ao número 13, apenas X3.

Conseguiram pronunciar hexacosioihexecontahexafobia, medão do número 666? Eu ainda não. Tenho é medo ou receio  da "legitimidade" desse palavrão.

Há um famosíssimo cantor, segundo notícias, que estaria projetando construir um edifício e supersticioso ao extremo que é, pensava em excluir o 13° andar. Do 12° andar, o seguinte seria o 14°.
Tem sentido isso? Não se trata de imensa tolice?
Se o prédio tiver, digamos, 20 andares, na verdade serão 19. Não dá para excluir o 13 e qualquer outro número. Ao chegar ao 12° andar, o elevador apontará o 14° andar, mas todos sabendo que se trata do 13°.
Besteirol, não?

Há um quadro histórico importante que se refere ao extermínio da Ordem dos Templários em 1307. O rei Felipe  IV da França, colaborou com o Papa Clemente V nesse objetivo. Naquele ano, no dia 13 de outubro, uma sexta-feira uma ordem expedida na França e em toda a Europa determinou a prisão de todos os templários. Presos, foram acusados de heresia e massacrados pela tortura praticada para que revelassem o esconderijo de seus tesouros como se acreditava terem acumulado naqueles tempos. Muitos foram condenados à fogueira. "Dia de mau agouro".




Para mim, no joguinho do bicho e nos bilhetes da loteria, 13 é a borboleta. E como sou chegado numa borboleta azul andei caçando muitos desses bilhetes lotéricos. Nunca obtive prêmios, mas continuo com as borboletas, nem que seja a 13ª.




DAS SUPERSTIÇÕES:
Gatos pretos: na idade média seriam bruxas transformadas, dai o azar quando se cruza com um deles. Mas, também, podem significar riqueza se andarem por perto, caseiros, dai "dinheiro caindo do céu".
Número 13: Doze os apóstolos mais Jesus. Judas traiu Jesus, o que "amaldiçoa" o número treze; a sexta-feira 13 é de "azar" porque Jesus Cristo fora crucificado nesse dia.
Trevo de quatro folhas: quatro as estações, quatro as fases da Lua - número completo. Pela raridade do trevo de quatro folhas, se encontrado, ele é de sorte

Fotos e imagens:
(1) Besta: animalzinho estéril mal afamado, especializado em carregar cargas (Google);
(2) "Borboleta 13" segundo estampado no Google;
3) Trevo de 4 folhas e o 13. Mastiguei na infância muitos ramos de trevo, porque azedinhos. Havia um de 4 folhas comigo conservado há décadas, pela sua raridade, num livro que acabei encontrando. Daria azar o 13 e sorte o trevo de 4 folhas. Ambos dão sorte...





Esse trevo de quatro folhas estava bem guardado no livro "Eneida" de Virgílio que meu pai adquiriu em janeiro de 1944. Calculo que essa folhinha, bem embaladinha lá esteja desde a década de 40.







(4) O gato preto e o 13. O gato por ser preto leva má fama também pelo seu olhar fixo, verde e alerta.

30/10/2011

ONDE ESTAVA DEUS?

Esta crônica já publicada em outros espaços, até mesmo no meu “Artigos” um blog no qual exponho minha face de zanga por tudo o que vejo em minha volta, não concordo e me revolto (já disse, a minha “face 2”). (1).
Quantas vezes vacilo me questionando o que espero dessas minhas opiniões irresignadas. Mas, quando chega o fim de semana ou uma hora qualquer de alguma reflexão resisto à preguiça e escrevo, se não para ninguém, pelo menos para mim. (2)
Lá fora o meu deserto. E esbravejo.

Volto à crônica. Ela se identifica com este “Temas”, bem mais acessado que aqueloutro.

No imenso “Guerra e Paz”, Leon Tolstoi, ao descrever a barbárie das batalhas de conquista de Napoleão – o romance é todo centrado na invasão à Rússia – defende que também a História não se rege apenas pela só ação do livre-arbítrio do homem, mas por certas leis imperceptíveis. Daí para a História, diz ele, “também é necessário renunciar à liberdade da qual temos consciência e reconhecer uma dependência que não sentimos” e que a História não investiga os “elementos homogêneos, infinitesimais que conduzem as massas”.
Essa crença do autor russo é preocupante ao indicar que os horrores da guerra teriam uma causa transcendente, além das meras “causas imediatas e próximas” como adota a História nos livros para explicar as conflagrações.
Há tempos, vinha meditando sobre tais ideias e me perguntava o que diria Tolstoi sobre a ascensão de Hitler e do nazismo na Alemanha que além das conquistas territoriais, patrocinaram a matança de milhões de judeus – um povo que provém dos remotos tempos bíblicos - algumas minorias e milhões de soldados e civis também vítimas do conflito sem contar a gigantesca destruição de cidades inteiras.
Há uns anos, indagações surpreendentes fez o Papa Bento XVI ao visitar o campo de concentração em Auschwitz, Polônia, local de extermínio e tortura nazista onde exalam os horrores do sofrimento a maioria judia:
- “Onde estava Deus naqueles dias? Por que ele se manteve em silêncio? Como ele permitiu essa opressão sem fim, esse triunfo do mal?” perguntara o papa. E acrescentaria ser “impossível adivinhar o plano de Deus.”
Esse desabafo papal, digamos assim, incomodou-me porque me levara de novo às ideias de Tolstoi. O horror nazista não fora, então, a mera expressão do livre-arbítrio de um louco que convenceu quase um país inteiro do acerto de suas ações criminosas e, pior, amealhou adeptos até mesmo fora dele? Quais leis conduziram, então, a mão assassina do nazismo?
E as bombas atômicas americanas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki em 1945 que decretaram a rendição do Japão sob os efeitos de escombros inimagináveis e milhares de mortos? “Impossível adivinhar o plano de Deus”, disse o Papa.
Há um livro que me impressionou, “Mistério e Magias do Tibete”, de Chiang Sing que me levou mesmo a escrever, com base em revelações trazidas na obra, artigo de natureza política explanando sobre a invasão chinesa naquele país.
Essa autora se aproxima de Tolstoi ao revelar que as Divindades “quando a Humanidade estaciona e é incapaz de evoluir de acordo com as leis do Amor” abre a jaula onde mantidos espíritos maléficos, “potências das Trevas”, que encarnam entre os homens: “São elas que fazem as guerras, que desencadeiam os crimes e as baixas paixões, os déspotas e perseguidores”. Nessa jaula estão os Herodes, os Atilas, os Neros, os papa perversos, “todos os que oprimiram e ensanguentaram a terra.” (3)
E eu incluo Hitler nessa súcia.
E nesse passo, “quando a Humanidade para no meio do caminho evolutivo, é preciso sacudi-la, agitá-la, como se faz com um rebanho indolente.” E como decorrência, instala-se o pânico universal por conta “dessas almas más” e “então, a evolução se precipita, os fracos morrem, os fortes lutam e alcançam a evolução”.
Há aqui que se fazer concessões à doutrina reencarnacionista.
Olho para as estrelas à noite e constato a minha pequenez, a pequenez do planeta e me recolho sem pensar nessa imensidão celeste, algo como um primata do início da evolução que não entendia sequer o fogo e a água. Entendo hoje?

As fotos do supertelescópio Hubble dão a dimensão artística do universo. O que mais nos resta dessa imensidão insondável que não seja a ignorância?

Acho que nessa nossa pequenez mental, olhando para o chão, ciscando, desrespeitando o equilíbrio do planeta com a devastação ambiental impiedosa que se processa, pode significar por conta dos denominados “fenômenos naturais” cada vez mais destruidores, gradual depuração.
E então, não há como invocar Deus pelo que advier daí: “Onde estava Ele?”.
Melhor: “Onde estamos nós hoje neste mundo pequeno que estamos devastando de modo implacável, irresponsável, lançando sem cessar, por essas ações, tal qual bombas com seus efeitos irreparáveis. A linguagem que prevalece acima de tudo é a do dinheiro, da corrupção, do egoismo. Por isso, não precisamos que novas "potências das trevas" sejam desenjauladas. De modo inconsequente estamos fazendo o seu papel.

Referências:
(1) Meu blog “Artigos” de 12.10.2009 e também no www.votebrasil.com
(2) “Preguiça” – “Sete Pecados Capitais” de 16.01.2011
(3) “Tibet: o que teme a China” no meu blog “Artigos” e no www.votebrasil.com. de 16.04.2009. V. também “Mistérios e Magias do Tibet” 27.02.2011

Fotos /Imagens
(1) Google
(2) Hubble: "Pillar of creation"
(3) Fottus.com/sem-categoria/apocalipse

02/10/2011

O VÍCIO DE FUMAR (De quando o médico foi a vítima)

Não serei condescendente!
Muitos são os fumantes que atribuem ao cigarro que sustentam entre os dedos indicador e médio, amarelados pela nicotina, mero “habito de fumar”. (*)
Por favor, que hábito nada! É vício puro. Porque o fumante que um dia assume a luta para deixar de fumar é um sofredor: a fumaça do cigarro por perto o seduz ao penetrar em suas narinas, o cigarro por perto é a sua tentação irresistível. A abstinência para muitos e sofrimento tal qual qualquer outra droga.
Quanto a mim, em quantas reuniões empresariais naqueles dias em que o cigarro era “habito”, não saí delas com a roupa malcheirosa...e dor de cabeça.


Ao longo dos anos em que trabalhei na indústria automobilística, em duas delas, convivi com um mesmo médico – já devo ter me referido a ele em alguma outra crônica - que, sem nenhuma influência da profissão, tinha ideias interessantes.
Por exemplo: estudante que era de temas espirituais, fazendo até palestras e conferências, costumava dizer que há dois tipos de homens: o ser humano inteligente, subjetivo, intuitivo e o "humanóide", aquele objetivista, materialista que faz da vida, sobretudo, uma operação matemática.
Os subjetivistas, para ficar no menos, segundo ele, seriam aqueles que espontaneamente prestam atenção a uma árvore, na beleza de uma planta, de uma flor, na amizade de um cão, possuem interioridade onde cabem certos valores éticos dos quais não abrem mão. Poetas. Os outros, isto é, os "humanóides", mesmo com elevada cultura, olhariam uma árvore pelo seu valor econômico, são indiferentes a certas belezas que o mundo oferece, porque não mensuráveis economicamente, calculistas, monetaristas, mantendo apenas os princípios básicos daqueles mesmos valores éticos, porque vivem em sociedade e dela dependem. Pouca ou nenhuma “interioridade” possuem porque eles são do mundo e a ele pertencem. Preocupam-se em acumular riquezas como se fossem imortais.
Evidentemente que essa classificação feita pelo meu amigo médico é muito radical, porque todos nós temos nossas contradições, claro que alguns mais que os outros.
O homem é contraditório e ponto final. Claro que também esse médico, meu amigo.

Pois bem, esse médico era fumante. Para “negar” o seu vício, chegou mesmo a escrever um artigo no jornalzinho da empresa explanando sobre os perigos do fumo para a saúde, destacando os malefícios aos pulmões: "O grande problema não está na absorção da nicotina e sim na inalação dos demais produtos do fumo que realizam uma obstrução nos brônquios e alvéolos pulmonares trazendo portanto uma diminuição na circulação cardiopulmonar (chamada pequena circulação)", escrevera ele.

Alguns anos depois, recebendo proposta vantajosa de outra empresa, viu-se instado a fazer um exame radiográfico de rotina. A chapa revelou um ponto suspeito exatamente...nos seus pulmões.
A despeito dessa tumor, conforme se confirmou depois, foi admitido na outra empresa. Fez uma cirurgia, sendo necessário extirpar parte do órgão afetado. Recomendação básica de seus (colegas) médicos: jamais voltar a fumar !
Voltou à vida normal, com alguma moderação. Atendeu prontamente ao conselho vital: nunca mais fumou !
Que eu saiba, depois que abandonou o cigarro, nunca teve desejos secretos de fumar, nem "delírios" pela abrupta ausência da nicotina. Talvez porque houvesse agora uma imperiosa necessidade em largar o vício: a preservação da vida. Claro que cada um reage de uma maneira, mas como o cigarro reage igualmente sobre todos, fumantes e não fumantes, dia virá que tal vício será definitivamente uma postura anti-social, "marginal" (já não é?).
E nessa nova situação de sobrevivência, mais comedido, esse meu amigo viveu ainda muitos anos, tendo ainda prestado bons serviços à área de medicina do trabalho.
Tenho certeza que, esteja em que plano estiver, esse meu amigo não estará magoado pela confidência que agora faço sobre sua experiência. Porque, antes de tudo, ele não era um "humanóide", apenas um ser humano com suas contradições e fraquezas, como nós todos que, felizmente, apesar dos pesares, deixou de fumar e sobreviveu, certamente, alguns anos a mais.

Legendas:

(*) Esta crônica não é nova, mas não perdeu a atualidade. Já escrevi sobre o vício do cigarro no portal www.votebrasil.com e no blog http://martinsmilton2.blogspot.com (“A (in) tolerância ao tabagismo” de 14.06.2009)
(1) Cigarros Macedônia, velha marca, quebra-peitos e detonadores, como tantas outras, de milhares de pulmões
(2) Figura das drogas contidas no cigarro. Fonte: portaldoprofessor.mec.gov.br

(3) Imagem impressionante num maço de cigarros "Free" advertindo sobre os seus efeitos maléficos à saúde dos pulmões.