24/02/2013

GUERRA, POR FALAR EM...E SUAS TRAGÉDIAS HUMANAS


Breve 'debate' do tema “guerra” inspirado nalguns títulos da literatura universal (“Nada de Novo no Front”, “Guerra e Paz”), no cinema (“Rambo”) e análise filosófica sobre elas (Krishnamurti).

"NADA DE NOVO NO FRONT" (1)

PARA RELEITURA COMPLETA DA RESENHA DO LIVRO "
NADA DE NOVO NO FRONT", ACESSAR:

TEXTO REVISADO E AMPLIADO




"RAMBO"

A guerra do Vietnã foi para os Estados Unidos por demais traumática. Há em pontos do seu território, memoriais com os nomes de todos os mortos nessa guerra perdida. E também do lado vietnamita há lembranças de suas vítimas, por pequenas campas em cada quintal.

Os veteranos americanos da guerra do Vietnã foram incluídos em programas de “ação afirmativa”, que incentivavam a sua contratação profissional e também dos mutilados.

Há, aliás, uma cena muito significativa no filme Rambo, que não escapara desse trauma. O enredo se concentra na presença do herói solitário (Rambo), um soldado com treinamento especial, apto a suportar os maiores desafios, que vaga pelas plagas do seu país em busca dos seus amigos, soldados também, mas não os encontrou, porque todos mortos.

Nessas caminhadas, chega Rambo a uma pequena cidade na qual é gratuitamente hostilizado, até que parte para o revide e a partir dai a violência explode na tela.


No final, diante do seu general, que o “criara” com aquelas habilidades sobre-humanas, explode num choro convulsivo lamentando a solidão e até mesmo a sua impossibilidade em conseguir...um emprego, porque veterano do Vietnã.

"GUERRA E PAZ"

No imenso “Guerra e Paz” de Leon Tolstoi há uma “cena” para mim bastante significativa. Um momento em que o herói da história, Pedro, luta com um soldado francês. Ambos se confundem quem era quem naquela luta que se iniciara, a preocupação descabida, a insanidade que só a guerra produz:

“Durante alguns instantes, miraram-se os dois rostos desconhecidos um ao outro, com espanto e perplexidade. Cada qual perguntava a si mesmo: “Fui eu que o aprisionei ou ele que me aprisionou?” O oficial francês parecia pender mais para esta última suposição, porque a mão vigorosa de Pedro, movida por um terror instintivo, lhe apertava cada vez mais a garganta. Ia dizer qualquer coisa, quando uma bala passou num assobio sinistro quase aos rés de suas cabeças; Pedro pensou que a do francês tinha sido arrancada, tão rapidamente a havia abaixado. Baixou também ele a sua e largou a presa.”

Claro que a obra de Tolstoi é, sobretudo, um romance com fortes impressões da ambição conquistadora de Napoleão que invadiria a Rússia.

O castigo dado a um traidor russo que se “vendera” a Bonaparte:

“- Uma boa machadada, hem?...Está estrangulado?...O traidor, o Judas! Não, respira ainda!...Tem a vida dura!...Só tem o que merece!...Uma machadada!...Está acabado?”

(...)

“Oh! Meu Deus, que animal feroz é o povo! Como depois disso poderia o coitado viver ainda?!” – repetia-se. – “E como era jovem!...sem dúvida um filho de papai!...Ah! o povo!...Dizem que não era esse...Como, não era ele?...Oh! meu Deus! E o outro em quem bateram, dizem que está semimorto!...Oh! o povo...aquele que não tiver medo do pecado...” diziam as mesmas pessoas que contemplavam agora, com compaixão, o cadáver de Verechechaguin, cujo rosto roxeava, coberto de sangue e de poeira e cujo longo pescoço esguio estava seccionado pela metade.”
 
(2)

Cenas de guerra, até “suaves”.

E o mal que fazem as guerras aos seus jovens soldados, obrigados ao “heroísmo” e a matar?


KRISHNAMURTI

J. Krishnamurti, filósofo de origem indu, considerado desde quando criança, pela Sociedade Teosófica um novo profeta – e ele rejeitaria esse qualificativo – educado por ela, tornou-se nos idos da década de 60, importante conferencista que pregava o que pode ser resumido na busca do autoconhecimento para mudar o caos em que se encontra o mundo:

“Não são apenas os americanos e os vietnamitas, porém cada um de nós, os responsáveis por essas guerras monstruosas. Não estamos empregando superficialmente a palavras, “responsáveis”. Nós somos responsáveis, não importa se a guerra está no Oriente Médio, ou no Extremo Oriente, ou noutra parte qualquer. Há fome, em grande escala, governos ineptos, acumulação de armamentos, etc. Observando tudo isso, somos natural e humanamente levados a exigir uma mudança, uma revolução em nossas maneiras de pensar e de viver.
Afirma que essas tragédias são causadas pela nossa “consciência nacional” e pela nossa religião: “Nossos deuses, nossas nacionalidades nos dividiram”.
Às vezes, sinto no seu pensamento certo limite porque atingir essas consciência – “aprender a respeito de nós mesmos” – sem fragmentações não se constitui tarefa fácil.

Já naqueles anos, servindo para os dias atuais, sem essa “revolução” religiosa – religiosa num sentido de interioridade e não de exterioridade – dizia ele que,

“Somos o depósito de todo o passado, da experiência racial, familial e individual da vida; somos isso e, a menos que em nossa própria essência haja uma revolução, uma mutação, não vejo possibilidade de nascer uma sociedade boa”.(3)

Creio mesmo que, aqueles espíritos superiores que conseguiram essa “revolução na própria essência”, pelas dificuldades que se apresentam hoje para viver com alguma plenitude nesse mundo tão desigual e contraditório, fogem desse cotidiano amargo.


Não divisando a possibilidade de “revolução na própria essência”, percebo a vida neste mundo cada vez mais difícil de ser vivida. Não há no relacionamento entre os povos aquele desprovimento do “seu mundinho”, de suas fronteiras, de suas idiossincrasias, pelo que a violência se manifesta, se ampliam os atos terroristas nestes tempos, cruéis, as armas de grosso calibre com poder de ceifar milhões de vidas a par de fazer tremer a própria estrutura da Terra...

Ah, sim, a fome poderia ser banida no Mundo se houvesse a utilização de apenas parte desses recursos bélicos imensos para o combate à miséria e introduzir o sentido da solidariedade.

Referências:


(1) Erich Maria Remarque, “Nada de novo no front” (Ed. Record)
(2) Leon Tolstoi, “Guerra e Paz” ( Ed. Itatiaia – 1997 – Vol. 2)
(3) J. Krishnamurti, “Como viver neste mundo” (Inst. Cultural Krishnamurti – 1976).

Imagens / Fotos:

1ª. Personagem Rambo;
2ª. Serenidade da noite sob a luz do luar - foto de Milton Pimentel Martins




05/02/2013

IRREFLEXÕES (... há algo de sacrilégio?)


O vento suave sopra de um modo que poderia sugerir um poema qualquer com rimas, ou sem elas exaltando esse momento. Único.
Entardece, esse vento com seu frescor ameniza o calor tórrido e faz com que, além de respirar fundo, tenha uma inspiração, uma busca de não sei bem o quê e onde. Mas, é um sentimento sensível, de paz. Há o silêncio – que tenho o direito de usufruir. Esse raro momento.
Medito. Nessas tardes, quando há essas coincidências todas entendo um pouco mais o significado do relaxamento interior pelo respirar pausado que bate fundo no peito.
Minhas misérias, captadas num vácuo da mente, se afastam envergonhadas e há esse sentido harmonioso a tudo se sobrepondo. As nuvens se desajeitam como sempre se desajeitam. Formam estrias. 

Aquela branca vindo tal qual algodão limpíssimo, por alguns instantes desenha...um caboclo? olhando para o alto, mãos cruzadas em oração?
Talvez ainda chova mais tarde um pouco. Nuvens escuras estão se aproximando. Que venha a chuva, sinfônica.

“O vento vai para o sul, e faz o seu giro para o norte: continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos”.

Essa frase é bíblica.
Levanto-me na preguiça e alcanço a Bíblia já aberta num livro específico. Costumo me cansar com os textos bíblicos porque exigem menos que leitura literal, interpretações.

[Já escrevi sobre esse tema, “Intuição desvendada”, crônica de 20.09.2009].

Mas, se tem livro que me deixa perplexo, é “Eclesiastes”:

“Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição do espírito”.

[Vaidade, nos dicionários: “desejo imoderado de atrair admiração ou homenagens, presunção, futilidades...”].

“E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol.”

Claro que o objetivo de tal texto é informar sem rodeios que no fim nada restará das riquezas, da fama, da fortuna, porque do seu autor só restará o pó. As placas, as homenagens se perdem no tempo, enferrujam, perdem-no viram pó, areia. “Quem era ele?”

[Já escrevi sobre isso, “Da vaidade ao pó (Reflexões sobre a terra prometida)” de 24.04.2011].

Mas, e as palavras e os exemplos dos que obraram pela Humanidade? A Bíblia está cheia deles.
Quanto a mim, a despeito dessa realidade da qual a cada dia todos vamos nos aproximando – do pó -, prefiro exercer o trabalho como um significado para a vida, mesmo sem a intensidade de antes.
Para muitos uma maneira de elevação (vaidade?). Há que lembrar que muitos sem trabalho, por outra, se perdem na depressão, no vício. E estes pontos respondem ao pregador:

“Que vantagem tem o homem, de todo o seu trabalho, que ele faz debaixo do sol?”

A Natureza trabalha e se renova sob nossos olhos.
E eu mesmo já disse, alhures, que “a vaidade impulsiona o mundo, porém.”

Depois de amanhã, será segunda-feira “brava”. Se não iniciar meu caminho nos rumos do pó – esse momento misterioso que nos “apaga” -, antes, terei tarefas e trabalhos a executar, com ou sem vaidades.
A chuva está chegando. Ela irrigará esta parte da terra. Que venha, sinfônica.


Fotos:
1. Nuvens, de Milton Pimentel Martins
2. Lavorando a terra


28/01/2013

ÉDIPO E A ESFINGE: FRASE QUE NÃO ESQUEÇO / Antígona de Sófocles



Há décadas e décadas na pequena estante do meu pai havia um livro muito antigo, “A Esfinge” cujo autor fora Mondini Belleti. Penso ser esse o título e o livro.
Curiosamente, buscando no Google, encontrei num sebo, a oferta desse livro, cuja edição é de 1923. Talvez o livro que li quando bem jovem, fosse exatamente essa edição.

Li sem interesse e, reconheço, com algum desdém, o livro, cuja história se baseia na tragédia de "Edipo”. Desdém ou não a verdade é que gravei para sempre, “enquanto durar esse sempre”, a seguinte frase do autor que, me parece, sintetiza todo o sentido da obra:

“Se ao invés do enigma proposto, impusesse a esfinge de Tebas que Édipo lhe definisse o homem, e seria Édipo devorado como todos os outros menos desgraçados.”

O desdém se devia à definição do “homem” para mim, então, algo descabido. “Definir o homem”, ora.
Mas, hoje, assistindo o que eu assisto, as mazelas, a violência entre os seres humanos, a maldade desmedida contra os animais, aquilo que tanto já disse, neste mundo de desigualdades onde convivem, lado a lado, a sordidez e a santidade, a frase me faz mais sentido.  E sempre aquela pergunta que não quer calar: qual o sentido de tudo isso, da vida, sob o sol do dia-a-dia?
E Édipo? E essa esfinge de Tebas?

Mitologia grega. Édipo foi vítima de uma maldição. Matou sem saber seu próprio pai e se casou, também sem saber, com sua própria mãe. Conhecida a verdade, Jocasta, a mãe, se suicidou enquanto Édipo, por não ter reconhecido quem era a mulher com que se casara, feriu-se provocou sua própria cegueira e se emasculou (castrou-se).



Dessa história da mitologia grega nasceu a teoria psicanalítica freudiana do “complexo de Édipo” segundo a qual o filho pode ter mais afeição à mãe e menos com o pai. Até mesmo aversão. Essa afeição à mãe se resolveria numa dada idade, com o “complexo de castração”.

E a Esfinge?


Um monstro com cabeça de mulher e corpo de animal (cão) que aterrorizava Tebas com seus enigmas. Não desvendado pelas suas vítimas, eram mortas e devoradas.

O enigma proposta a Édipo:
“Qual o animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e três à noite”?
Édipo venceu a Esfinge – que foi destruída -, com esta resposta:

- É o homem. Pela manhã ele engatinha com quatro ‘patas’; ao meio-dia é o adulto que anda com as duas pernas e à noite (na velhice) ele se vale de uma bengala, três pernas. (*)

Tudo isso relato por conta dessa frase que decorei há décadas. Essas coisas estranhas da mente que frequentemente afloram. Desta vez dela me livro oficialmente, mas continuo não sabendo definir o homem. E quem saberá?


(*) ÉDIPO REI de Sófocles, acessar comentários da peça:

https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2019/05/edipo-rei-de-sofocles-livro-60.html

Imagens.

1. Edipo e sua filha Antígona, que nunca o abandonou.
2. Representação da esfinge de Tebas


ANTÍGONA de SÓFOCLES


Sófocles (496-406 AC) escreveu uma das tragédias mais conhecidas do teatro grego, “Antígone” (Antígona), filha de Édipo que para mim – e por isso fiz um resumo valendo-me da edição de ebooksbrasil [www.ebooksbrasil.org] – tem algum ponto em que lembra a peça “Romeu e Julieta” de William Shakespeare. (Nessa obra de Sófocles, encontram-se a intransigência da autoridade representada pelo rei Creonte, a sua tardia resignação e a tragédia, o confronto entre o ódio e o amor e a consecução daquilo que já estava escrito, o destino).



Principais personagens (há outros na peça de Sófocles)


Antígone

Ismênia

Creonte

Hemon

Tirésias

Eurídice



Antígone – Ismênia



São irmãs e filhas de Édipo e Jocasta. Antígone chama a irmã para comunicar que desrespeitaria as ordens de Creonte.
Eram irmãos das duas, Eteócles e Polinice.
Com a morte do pai, Édipo, ambos lutaram pelo poder em Tebas, mas, “ao passo que dois infelizes, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, ergueram, um contra o outro, suas lanças soberanas e deram-se reciprocamente a morte!”
Então, Antígone relata à dolorosa notícia à sua irmã Ismênia:

“Pois não sabes que Creonte concedeu a um de nossos irmãos e negou a outro, as honras da sepultura? Dizem que inumou a Eteócles, como era de justiça e de acordo com os ritos, assegurando-lhe um lugar condigno entre os mortos, ao passo que, quanto ao infeliz Polinice, ele proibiu aos cidadãos que encerrem o corpo em túmulo (...). Quer que permaneça insepulto, sem homenagens fúnebres e presa de aves carnívoras”.

Ismênia vacila, teme pela sorte da irmã, que decidiu sozinha proceder à inumação do irmão Polinice.

Creonte

Com a morte dos irmãos, filhos de Édipo, assume o reinado de Tebas, Creonte.
Seu édito contra Polinice – negando a sepultura - foi assim explicado por ele:  

Eteócles que, “lutando em prol da cidade, morreu com inigualável bravura”.  Polinice, “que só retornou do exílio com o propósito de destruir totalmente, pelo fogo, o país natal e os deuses de sua família, ansioso por derramar o sangue dos seus, e reduzi-los à escravidão”.

Antigone consegue sepultar o corpo de seu irmão pouco abaixo da relva, sendo descoberta.

É questionada por Creonte sobre a sua grave desobediência. Diz ela:

“Nem eu creio que seu édito tenha força bastante para conferir a um mortal o poder de infringir as leis divinas, que nunca foram escritas, mas são irrevogáveis”.
(...)

Creonte:  “Ah! Nunca! Nunca um inimigo me será querido, mesmo após sua morte.”

Mas,  Antigone: “Eu não nasci para partilha de ódios, mas somente de amor!"

Hamon, filho de Creonte, noivo de Antigone

Questiona o pai pela dura resolução em condenar a morte a jovem:

“Quanto a mim, ao contrário, posso observar às ocultas, como uma cidade deplora o sacrifício dessa jovem; e como, na opinião de todas as mulheres, ela não merece a morte por ter praticado uma ação gloriosa.”
(...)
"Ela morrerá, eu sei! Mas sua morte há-de causar uma outra!"

Mesmo com todas as criticas à resolução, o édito de Creonte, por sua ordem, fora levado à frente.  Antigone foi levada a um sítio deserto e encerrada viva em um túmulo subterrâneo, “revestido de pedras, tendo diante de si o alimento suficiente para que a cidade não seja maculada pelo sacrifício.”

Tirésias, o adivinho

Revela a Creonte que sua resolução lhe trará graves consequências e desgraças.

Influenciado por Tirésias, convencido pelo clamor geral em salvar a jovem Antigone, Creonte se apressa em libertá-la do túmulo.

Tardiamente.

Ao lá chegar, encontra Antigone que se suicidara enforcando-se com os cadarços de sua cintura e lá está o seu filho Hemon em desespero. Cospe no rosto do pai que se aproximara, que clamava que dali saísse, mas seu filho tira a espada, tenta atingi-lo, e se suicida fincando a espada contra o seu próprio peito.

Eurídice

Esposa de Creonte e mãe de Hemon

Sabendo da morte do filho Hemon, Eurídice se fere com um punhal, suicidando-se com “um profundo golpe no fígado, ao saber da morte de Hemon.”


Cleonte entra em profundo desespero, sentindo-se culpado pelas mortes de Antígona, de seu filho Hamon e de sua esposa Eurídice. Pela sua tragédia.


“Não formules desejos...Não é lícito aos mortais evitar as desgraças que o destino lhes reserva!”

25/12/2012

PERCY E MARY SHELLEY...QUEM?



Sabem essas pausas de leitura nas quais um livro qualquer lhe cai às mãos e você passa a ler para não perder aquele hábito relutante porque a televisão está à sua frente como sereia pegajosa, bastando um clique?

Foi assim com o livro de André Maurois, “Ariel ou a vida de Shelley”, com tradução de Manuel Bandeira.

Bem, o livro deveria ser bom porque Mourois (1885-1967) fora renomado escritor francês, membro da Academia Francesa desde 1938. Manuel Bandeira (1886-1968), renomado escritor e poeta brasileiro, fora o tradutor. Deste o sempre lembrado “Vou-me embora pra Pasárgada”:

[Vou-me embora prá Pasárgada
Lá sou o amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora prá Pasárgada.]


À medida que avanço nas páginas do pequeno livro (197 páginas) vou com ele me encantando com os episódios da vida de Shelley, poeta inglês com grande talento. Descrito como “muito bonito”, com traços femininos, rebelde ao extremo, “não cristão” – defendera na juventude a necessidade de ser ateu.

Pela sua rebeldia, seu pai, muito rico, negou-lhe ajuda o que fez com que vivesse sempre com imensas dificuldades o que não o impediu de se casar aos 19 anos, com Harriet, de 16 anos.

Sua vida foi marcada por tragédias: a primeira esposa (Harriet) suicidou-se quando abandonada por ele, filhos seus que morreram precocemente naqueles tempos de medicina precária. Já vivendo com Mary Goldwin, casou com ela 15 dias depois da notícia da morte de sua primeira esposa. Após o casamento chamou-se Mary Shelley.

Nessa quadra de amargura vira a filha de sua cunhada Clara com Lord Byron - tratado como um devasso – deixada morrer, abandonada, num convento pelo pai.

As escalas poéticas, excêntricas de Shelley podem ser compreendidas por este trecho do livro de Mourois:

“Um dia o marinheiro encontrou-o tão absorvido numa visão longínqua que não ousou interrompê-lo sem primeiro lhe despertar a atenção e fazendo estalar as agulhas secas dos pinheiros. (...)
Chamou Shelley, que virou a cabeça e disse com lentidão:
- Hello! Entre.
- Este então é o seu gabinete de trabalho?
- É, estar entre as árvores são os meus livros. Quando a gente compõe, é preciso que a atenção não fique dividida. Numa casa não há solidão: uma porta que se fecha, um rumor de passos, uma campainha ecoam no espírito, dissipam visões.
- Aqui há rumores do rio, dos pássaros.
- O rio desliza como o tempo, e os sons da natureza fazem bem à alma. Só o animal humano é discordante e me incomoda...Oh, como é difícil perceber por que razão estamos aqui neste mundo, perpétuos tormentos para nós mesmos e para os outros!”

Percy Shelley morreu afogado aos 29 anos, vítima de um naufrágio.

Mary Shelley

No livro de André Maurois, Mary Shelley é apresentada como mulher, esposa e até protetora de seu marido.


Mas, Mary Shelley fora escritora talentosa com inúmeras obras.

Talvez não a melhor, mas aquela que ultrapassou os séculos é “Frankenstein”, escrita por Mary quando tinha 19 anos, em 1817.

Esse seu personagem ilustra até hoje histórias em quadrinhos, inúmeros filmes já foram produzidos, sendo constantemente reintroduzido na ficção.

Frankenstein, na obra, é o sobrenome do seu criador, Victor, que ao criar a criatura monstruosa, se arrepende amargamente da experiência, é perseguido por ela que em lugar de o atacar como ele receava, ataca sua esposa e a enforca. Há momentos ternos mas Frankenstein é sempre tratado sem complacência, porque julgado sobretudo por sua aparência.

No leito de morte de Victor, a criatura lá está emocionada com a partida iminente do seu criador.

A filha legítima de Lord Byron – ADA LOVELACE

Shelley se relacionou muito com Lord Byron, poeta e escritor inglês influente, mas tratado no livro como um devasso.

Ele teve uma filha legítima, Ada Lovelace. E daí?

Fora ele talentosa matemática e é lembrada como a primeira programadora de computador. Isso mesmo, e em meados do século 19!

Ada viveu pouco, apenas 37 anos incompletos (10.12.1815 - 27.11.1852). Mente avançada para o seu tempo, entendera a máquina de Charles Babbage, fizera anotações que seriam utilizadas um século depois de sua morte (início da década de 50) na construção dos primeiros computadores.

Envolvida no projeto Babbage, ela desenvolveu algoritmos que permitiriam à máquina computar valores de funções matemáticas.

[Algoritmo: passos para solucionar uma tarefa, um programa: como fazer...]

Charles Babbage (1791-1871) foi um cientista, matemático, engenheiro mecânico e inventor e reverenciado como aquele que projetou o primeiro computador, a máquina analítica, considerado como o “pai” da computação, embora seu invento não fosse concluído pela precariedade técnica no seu tempo. 

Essas invenções, porém, não eram conhecidas dos criadores dos atuais computadores.

No que se refere a Ada Lovelace em 1980, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos registrou linguagem de programação estruturada com o nome “Ada” em, sua homenagem. (1)

É pouco?

Todas essas informações – úteis ou não – foram surgindo de um simples livro que o acaso chegou até mim, o livro de André Maurois, “Ariel ou a vida de Shelley”. (1)

Referências:

(1) As respectivas biografias de todos os nomes mencionados nesta crônica podem ser encontradas nos portais de busca na internet

(2) Editora Record

Imagem:


Retrato de Mary Shelley por Richard Rothwell




25/11/2012

O DC3 VOOU SERENO PORQUE HAVIA QUEM DEVESSE FICAR EM TERRA (*)



...para outra viagem, “sem volta”.


Dia desses, por dever de ofício, aportei em Belo Horizonte, fiz o que tinha que fazer – nem bem, nem mal – e a volta à tarde, esperei no aeroporto de Confins  a volta com a Azul – que tem sido pontual, felizmente.

Nesse lapso de espera, começo uma aproximação com um outro passageiro que esperava a definição da hora do seu voo por outra empresa - ocorrência muito normal num aeroporto, falamos de incidentes com aviões, até que, mais à  vontade, esse passageiro, animou-se a relatar um estranho incidente.

Encerrara-se o trabalho de grande empreiteira na divisa de Goiás – hoje Tocantins, estado criado em 1988 – com o Pará. Os principais funcionários rumariam, então, para Belém num ainda utilizado DC-3. Esse avião, Douglas DC-3 era um bimotor que fora importante entre a década de 30 até 50 no transporte de passageiros e carga.



Mas, por aqui, pelo que sei, voou muitos anos mais.

Mas, no dia da viagem, pela manhã, o avião não pode decolar. O piloto, que o conhecia nos detalhes percebeu que uma peça importante do motor estava desgastada pelo que fora adiada a partida por segurança.

Três dias depois, a peça chegou vinda de Manaus.

Peça trocada, tudo certo para a viagem, o velho DC-3 decolou. Mas, o piloto percebeu um desarranjo num dos motores e teve que pousar de onde saíra.

Fora, então chamado, mecânico, que veio do Pará, depois de mais três dias.

Cansado de esperar, inseguro com as possibilidades do velho DC-3 chegar em segurança até Belém um dos passageiros desistiu da viagem de modo definitivo:

- Não viajo nesse avião, de jeito nenhum. Amanhã pego um barco, do outro lado arrumo um carro e vou aos trancos e barrancos, por terra, até Belém. Do jeito que der.

E assim fez.
No dia seguinte, o mecânico que chegara, fizera pequenos ajustes e regulagens de rotina. O DC-3 partiu sereno e seguro nos rumos do seu destino.

Ao pousar o DC -3 em Belém, os passageiros receberam a má notícia, muito triste. O passageiro desistente do DC-3 sofrera grave acidente com o veículo que contratara. O veículo se chocara contra uma árvore. Ele e o motorista não resistiram aos ferimentos e faleceram no local.

Moral da história verdadeira: O DC-3 somente voou quando um dos passageiros desistiu da viagem. Seu destino era outro... sem volta.

Há muitos casos de passageiros que perdem voo em viagens que se tornam fatais, trágicas. “Carmas coletivos”.

Mas, para cada estalo de dedo, decola e pousa um avião no mundo.



(*) “RAÍZES DO BRASIL” – Sergio Buarque de Holanda



Divulguei no Facebook pequena nota sobre a minha leitura inicial de “Raízes do Brasil” de Sergio Buarque de Holanda, publicado no portal GOLP – Grupo Oficina Literária de Piracicaba – por iniciativa de sua coordenadora Ivana Negri - e no jornal “Tribuna de Piracicaba” de 10.12.2012 (a carranca é essa mesma).

Dias depois acabara a leitura do livro fazendo então, uma resenha maior sobre “Raízes do Brasil”, deixando claro que tive dúvidas em apreender alguns conceitos do livro.

Essa resenha já foi inserida neste blog, no título “Dos livros que não consegui ler (ainda?). E os já lidos” de 17.10.2010 (nesse titulo me refiro aos livros / autores seguintes: “O Sertões” de Euclides da Cunha; “Grande sertão: Veredas” de Guimarães Rosa; Friedrich Nietzche; “Ulisses” de James Joyce; “1984” de George Orwell; “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley; “O Presidente Negro” de Monteiro Lobato – Há outros lidos e não conseguidos).

Mas, voltando à resenha de “Raízes do Brasil”. O texto da resenha é longo mas destaco a menção crítica a Machado de Assis constante da obra de Sérgio Buarque de Holanda:

Trata-se de uma obra que exige concentração mais apurada na leitura de tal modo que se obtenha o preciso sentido dos conceitos emitidos pelo autor. Creio mesmo que seria bom que fizesse uma segunda leitura do livro  como preciso fazer de “Os Sertões” de Euclides – compromisso que estou em débito.

A referência às raízes do Brasil, significa que o autor voltou aos tempos da colonização portuguesa e bom que se diga que não é ele crítico na medida em que afirma que não é (sempre) possível subestimar a “grandeza dos esforços” de Portugal na exploração das novas terras, embora não nega que tudo se fez “com desleixo e certo abandono”.

Mais, a frente, ao tratar da “persistência da lavoura de tipo predatório”, a exemplo do que denunciara Euclides em “Os Sertões”, não deixa o Autor de destacar o uso do fogo na agricultura quando chega aos detalhes de explanar sobre o uso da enxada e do arado:

“Mostra-se nesse trabalho como o recurso às queimadas deve parecer aos colonos estabelecidos em mata virgem de uma patente necessidade que não lhes ocorre, sequer, a lembrança de outros métodos de desbravamento”.

A prática do fogo permanece até hoje, como se sabe, devastando largas extensões de florestas brasileiras.

No livro ainda se descobre que em terras paulistas a língua falada era, predominantemente, a indígena segundo, entre outras fontes citadas pelo autor, as observações do padre Antonio Vieira: “É certo que as famílias dos portugueses e índios de São Paulo, estão tão ligadas hoje umas às outras, que as mulheres e os filhos se criam mística e domesticamente, e a língua que as ditas famílias se fala é a dos índios, e a portuguesa a vão os meninos aprender à escola.”

 Aponta no meio do capítulo “novos tempos”, que autores românticos tornaram “possível a criação de um mundo fora do mundo, o amor às letras não tardou em instituir um derivativo cômodo para o horror à nossa realidade cotidiana. Não reagiu contra ela, de uma reação sã e fecunda, não tratou de corrigi-la ou dominá-la; esqueceu-a, simplesmente, ou detestou-a, provocando desencantos precoces e ilusões de maturidade. Machado de Assis foi a flor dessa planta de estufa.”

[Ora, o escritor é assim, tem o direito de sair da realidade e criar situações novas, ficções, inspiradas, suas, ascender à poesia que o afastam do horror da realidade. Toda a literatura de Machado, que está aí até hoje e sempre reverenciada talvez se enfraquecesse se fizesse referência ou descrevesse, por exemplo, à imundice que saltava pelas ruas do Rio de Janeiro. Muitos horrores se foram e Machado de Assis, ficou].

Sobre o Segundo Reinado e da Primeira República, “as constituições feitas para não serem cumpridas, as leis existentes para serem violadas, tudo em proveito de indivíduos e de oligarquias, são fenômeno corrente em toda a história da America do Sul” – o significado de tal afirmação no fundo se refere “às primazias das conveniências particulares sobre os interesses de ordem coletiva...”

[Com efetividade o fenômeno do descumprimento da lei e da Constituição por aqueles que detêm influência por causa do seu vigor econômico quando não parte do poder político é uma realidade. Que o digam as milhares de ações que se avolumam nos tribunais há anos e anos e ainda hoje. Todavia, quanto aos tribunais, constata-se que há posicionamentos mais rigorosos  que podem mudar o perfil de país de tal maneira que se consiga a “ordem” proclamada na bandeira].      

Há um sentido crítico à “cordialidade” que sempre prevaleceu por aqui e até hoje visitantes de outros países ressaltam essa característica brasileira que nem sempre seria saudável quando se trata de relações impessoais, do Estado impessoal – separação do público e do privado. A observação é minha trazendo esse aspecto para o presente: o denominado “processo do mensalão” não tem algo da permanência do “estado cordial”?

Mas, ressalte-se que esse conceito, no livro, não é muito claro.

Bem, paro por aqui, reafirmando a dificuldade do texto do autor Sergio Buarque de Holanda em sua obra “Raízes do Brasil”, um clássico muito citado mas tenho dúvidas se lido na mesma proporção.




04/11/2012

ESTE MUNDO CONTURBADO E AS REFLEXÕES ECOLÓGICAS


Não receio em me repetir nas impressões que se repetem...
Misturo, na preguiça da varanda, uma série de pensamentos que vão e vem, incluindo pessoas, fatos e emoções que se perderam no tempo e que, num desses instantes, voltam à mente de modo inexplicável.


Estava exatamente refletindo sobre isso, sobre o passar dos anos – e como passaram céleres! – chamando-me para o alto nuvens brancas sopradas pelo vento. Formavam figuras disformes que se alteravam rapidamente a mercê do que o vento esculpia.
Mas, ali, na varanda naquele momento de serenidade, fui sobressaltado pela transcendência daquele fenômeno tão corriqueiro: quais as indagações que esses movimentos somados a tantos outros do planeta deveria fazer?
Minha mente preguiçosa foi instada a tanto, mas percebi quão limitada ela é para um mínimo de compreensão, não, claro, do movimento das nuvens em si, mas aquele sopro nessa conjunção universal.
Ó ignorância que não me deixa avançar!
Ao contrário das nuvens em movimento que se transformam eis-me aqui plantado neste chão sem poder flutuar e mudar a forma dos pensamentos que me afloram e que, por mais que eu os bem receba ou os afaste, não significam transcendências que naquele momento fora chamado a pensar. Há um bloqueio.
Mas, afinal, eu quero mesmo desvendá-las, essas transcendências?
Não sei ao certo.
Este é o mundo das contradições, das ofensas e dos perdões, da violência e da ternura, do desejo e da renúncia, do nascer e do renascer, do dar e receber. Da destruição e da reconstrução. Do amor e do ódio, da vida e da morte.
Nesse turbilhão de contradições e desejos, não sei se as quero reveladas neste meu tempo de agora. As nuvens estão lá no alto se transformando ao sopro do vento.
E eu somente as observo.


Já não de hoje, agora nessa mesma varanda me refugio sob a noite a cata das estrelas, naquele pequeno quadrilátero que resta entre muros e sempre com a esperança de ver movimento de algum corpo estranho deslizando no espaço.
Essa abóbada parece ser absolutamente indiferente a este mundinho tão minúsculo e tão cheio de ambições, traições e destruições.
A notícia diz que “um mosaico de imagens do centro da Via láctea, tiradas com um telescópio no Chile, registrou a presença de cerca de 84 milhões de estrelas, na maior observação desse tipo já feita pela astronomia.”


A área de observação seria de apenas 1% do céu...como disso se saberá, pelo tamanho do universo?
Quem controla essa harmonia de tantos corpos que não se chocam, que mantém distância cautelosa entre um e outro?
A pergunta é até redundante e primária, mas a resposta, essa não vem.
A despeito de destruidores como somos, pouco mereceríamos dessas forças controladoras, mas elas ainda mantêm, parece, alguma esperança de nossa redenção.  Como seria fácil nossa pulverização cósmica na nossa absoluta insignificância planetária!
Não duvido se tais forças controladoras não esperam que nós mesmos entremos em agonia como resultado de nossa insanidade.
Mas, na medida em que somos destruidores de nossa própria casa, mais violência aqui floresce, nesta escola de aprendizagem que concentra todos os níveis de aprendizes.
Violência não só entre semelhantes, mas também das forças revoltas da natureza – cada vez mais. (1)


O maior exemplo do benefício das árvores em relação ao resfriamento do clima é até elementar.
Nessas caminhadas que normalmente faço aos domingos num parque em cujo traçado se transita sob árvores e em outro trecho sob o sol, naquele primeiro trecho sempre há aquela sensação de refrescamento.


Imaginem como o clima é afetado pela queima de milhares de quilômetros quadrados para formação desordenada de pastos ou plantação de soja. E o “corte” de árvores com raiz e tudo pelos correntões.


Há, aí, uma tragédia anunciada.
A propósito do furacão Sandy que devastou regiões dos Estados Unidos e principalmente a sempre empolgante Nova York duramente afetada pelas enchentes há muitos cientistas que acreditam que tais tragédias e outras com o mesmo feito se deve às mudanças climáticas resultantes da ação do homem sobre a natureza.
Claro que há sempre os céticos que afirmam que não existem os efeitos daninhos das emissões poluentes sobre o clima e que tudo é “natural”. Afinal, o progresso da humanidade não pode ser contido pelas “teorias” do aquecimento.
Peter Singer, “incansável na denúncia dos riscos do aquecimento global e na defesa dos direitos dos animais” revela de modo enfático que o furacão Sandy não foi “um evento natural”. (2)
Tempestades extremas como essa, evidenciam nossa ingenuidade ao imaginarmos que o conhecimento científico é suficiente para nos proteger delas.”
Defendeatitude radical em relação ao efeito estufa, nas formas de geração de energia e em nossos próprios padrões de consumo – antes que seja tarde demais.” E, “no que se refere ao clima, assim como às plantas, animais e tudo o mais que chamamos de “ambiente natural”, não existe mais “natureza” neste planeta: estamos vivendo numa era em que a atividade humana afeta tudo, em todas as partes do mundo.”

Por tudo isso, a coisa por este mundinho de ninguém deve afetar filhos e particularmente os netos em diversos sentidos, até o da produção de alimentos que poderá ser prejudicada pela degradação do ambiente natural. (3)


Referências:
  
(1) “Apocalipse agora” neste “Temas” de 13.21.2011.
(2) Peter Singer, filósofo, ambientalista, professor de Bioética da Universidade de Princeton e autor de “Vida que podemos salvar” (2011). Entrevista ao jornal “O Estado de São Paulo" de 05.11.2012.
(3) Meu artigo “A devastação ambiental e a reserva alimentar (relatório do PNUMA)” de 22.10.2012 no blog: martinsmilton2@blogspot.com.br. 

Fotos:
(1) "Céu de Piracicaba" - Autor: Milton Pimentel Martins
(2) Foto divulgação das 84 milhões de estrelas da Via-láctea
(3) "Árvores" - acervo próprio
(4) Derrubada de árvores por correntões fixadas em dois tratores (Google)

21/10/2012

ÁRVORES, O QUANTO QUERO


                

O Facebook tem se prestado muito a que seus alinhados mostrem seus méritos, fotos de momentos inesquecíveis e tudo o mais... e até mensagens de cunho “moral”, de autoajuda, piadas, charges.
Prefiro colocar histórias singelas sobre árvores neste “Temas”, porque mais duradouro ainda que a crônica, predominantemente fotográfica, possa não desperte muito interesse. Corro o risco.
Afinal, há crônicas antigas que publiquei aqui que não há dia que não sejam acessadas enquanto outras, até de minha preferência, tem acessos casuais.
Nesta crônica, falo de amoreira, mangueira plantada em solo de pedra, pé de atemoia, coqueiro gigante, ipê roxo, áreas verdes... e aventuras que se perderam.

Amoreira e atemoia e decorrências 


No quintal aí está a amoreira que se expandiu de modo inesperado. A muda quando plantada tinha não mais do que 60 cm num solo rui, com muita pedra.  Agora, sua copa e enorme e caibo “dentro” dela. E amora aos borbotões. Os pássaros deixam por todo parte borrões roxos por dela se alimentarem.

Atemoia: 



Ao lado da amoreira, um pé de atemoia, que plantei de semente e hoje produz um fruto grande, amanteigado. Se de tamanho grande, sem praga, vale por uma refeição. A praga deixa a fruta seca, preta, como se fosse carvão. Todas elas devem ser colhidas e descartadas. 
A semente foi plantada de modo simples, num saco plástico grosso, com boa terra. A muda logo eclodiu, prosperou e já grandinha foi replantada em local com sol predominante e sombra.

Mangueira que dá manga, "pasto" de abelhas


Essa mangueira também uma muda pequena foi plantada por mim, numa área com pedras e mais pedras.
Com muito esforço porque as pedras entortavam as extremidades da cavadeira consegui abrir pequena cova, alargando-a com espécie de formão. Pus o que pude de material orgânico ao fundo, não acreditando que a tenra mangueira vingasse tal a dureza do terreno.
Mas, o que aconteceu depois de alguns anos?
Ela passou o produzir dúzias e dúzias de manga da melhor qualidade. E num solo de pedras. Em se plantando...
As mangas que caem, porque ela é hoje muito alta, se torna alimentos de abelhas e outros insetos que se deliciam de tal modo com a fruta a ponto de não fugirem quando me aproximo “perigosamente”. Elas abrem túneis sob a casca e por lá ficam por horas.
Ao lado dela, uma ameixeira muito “frequentada” por pássaros que se alimentam das ameixas miúdas mas doces. Plantada também entre as pedras.
Ao fundo, uma pitangueira, “geração espontânea”.

Coqueiro que dá coco 

Este coqueiro, hoje enorme – já falei sobre ele alhures – está plantado em outro local e eu adquiri a muda como se fosse da espécie anã. Mas, não, é da espécie “gigante”. Quando era possível colher os cocos verdes cheguei a contar, numa só vez, 76 unidades. Hoje, espera-se que eles caiam de maduro. Em grande quantidade, eu comecei a doar os excessos. A grossura do seu tronco já me preocupa, porque ele está plantado num canteiro.

Áreas verdes, desleixos e cuidados

Abaixo uma área verde bem nas minhas vizinhanças parte de área maior.
Fora esse terreno usado para depósito de entulho e lixo até que resolvi lhe dar a utilidade para a qual fora reservado. Mantive muitos contatos com a Municipalidade até que, num domingo, resignado servidor mandou um trator que fez a limpeza. Depois, trouxe um pouco de placas de grama e nada mais.

Para sua formação todas as mudas foram plantadas por mim. As covas foram abertas sob chuva deliciosa para aproveitar o terreno mole. Depois, já com as mudas pegas, mais tarde vizinho plantou espécies arbustivas e mudas de pitangueira.


Nesse corredor verde, do outro lado, a beleza de um ipê roxo em plena florada.

problema dessas áreas verdes é que vizinhos ignorantes as usam para “depositar” restos de jardim e até entulho. São incivilidades, num país com mentalidade atrasada onde há um sentido de indiferença e predação.


Tenho feito com as limitações conhecidas, campanhas para o maior aproveitamento da arbustiva hibisco (mimo).
Tem a vantagem de não crescer muito, produzir flores grandes, multicores dando aquele tom de leveza desestressante nesses tempos cinzentos.
Essa planta poderia ser adotada em espaços mais largos entre pistas nas entradas do estado pela mesma razão.
Mas, vá alguém assumir a ideia em meio a essa indiferença e mesmo mentalidade embotada e monocromática “das autoridades competentes”.  Não saem do lugar comum, nem por decreto.