04/03/2014

O ESCORPIÃO NO SAPATO




ANIMAIS (ZINHOS) E BICHOS constitui-se numa crônica publicada em 10.04.2009 neste Temas falando de várias espécies que me marcaram. Por gostar muito, resolvi separar cada animalzinho fazendo uma crônica para cada um deles, mas sempre mantendo a introdução original, abaixo.
Outros "bichos" que republicarei:
A Coruja
Abelhas
O leitãozinho
("O quati" já foi republicado em "Quatizada em Águas de São Pedro" de 14.07.2013 neste Temas).


EXPLICO

Minhas relações com as várias espécies de animais (zinhos) e bichos sempre foram as melhores possíveis. Já nem falo de cachorros. Tive uma preta já velha e agitada que me encarava suplicante pela janela, aqui do lado, esperando por um afago, passando minha mão pelos losangos da grade. Se não chego perto, ela choraminga. Sua morte para mim, pelo modo como se deu foi por demais dolorosa. Não a esqueço. Como esquecer anjos que transmitem amor incondicional?
Daqui mesmo, olhando à esquerda vejo rolinhas, anuns, pica-paus, bem-te-vis e outros espécimes que não sei identificar (há um pássaro azulzinho frequentador assíduo) saboreando bananas e metades de mamões postos para eles, sobre o muro, pela manhã, exatamente para que compareçam diariamente.
Gatos são, porém, minha preferência, embora tenham eles sumido das vizinhanças. Há muita gente intolerante com esses animais e partem para a maldade. Talvez nem eu mesmo tenha tempo para eles hoje, mas sempre que por perto, foram entre malandros e doces. Um tinha por costume morder suavemente meus pés com aqueles dentinhos finos. Aos meus protestos, ele parava, olhava para cima, com aquelas pupilas que vão e voltam e ficava a espera de um agrado.
Um indivíduo velho desses, malandro que só ele, que morreria atropelado, certa manhã comia sua ração quando um estrondo de tampa de panela no chão o fez saltar em pânico e sair correndo para a janela em fuga, batendo a cabeça no vidro. Percebendo a gafe e a risada geral, o sujeitinho se postou quieto perto da janela e carregado carinhosamente de volta à comida, ronronou como se tentasse explicar o vexame por que passara. Como não gostar desses caras?
Que valor tem, por exemplo, reter na mão um beija-flor que adentrou numa sala, na hora do almoço talvez atraído pelo perfume dum suco de uva? Cansado de se debater em busca da saída, barrado pelo vidro transparente sem entender porque não alcançava a liberdade - que estava a um palmo abaixo na abertura escancarada da janela -, que via lá fora, suas flores e suas árvores tão perto, entregou-se à sorte encostando-se indefeso num canto da parede. Eu o embalei cuidadosamente. Um chumaço de penas na minha mão, bicudo e olhinhos pretos. Solto lá fora, bateu as asas e desapareceu. Ficou a sensação de sua presença.
Que valor tem um momento desses? Para mim muito valor, muitíssimo.
Certamente que muitos dirão que isso ou aquilo é rotina e contarão passagens mais interessantes.
Mas, para mim foram experiência e impressões únicas, daí...


O escorpião no sapato

O escorpião é um animal (zinho) amaldiçoado na Bíblia. Eis alguns versículos que o tratam como um demoninho:

● Apocalipse 9,5: “...e o seu tormento era semelhante ao tormento do escorpião quando fere o homem.”

● I-Reis 12,11: “...meu pai vos castigou com açoites, porém eu vos castigarei com escorpiões.”

● Eclesiástico 26,10: “Uma mulher maldosa é como jugo de bois desajustado; quem a possui é como aquele que pega um escorpião.”

● Lucas 10,19: “Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões, e toda a força do inimigo; e nada fará dano algum.”



Por vezes um acontecimento que poderia ser ignorado num mero bocejo, rebate como se houvesse um sentido oculto, uma mensagem velada. Tive várias dessas experiências. Uma delas, meio assustadora, dera-se numa chácara que frequentava.

 Lá chegando, quase todos os domingos, calçava um par de sapatos velhos, feito chinelos, folgados e saia pelos campos. 

Num fim-de-semana, calço os tais sapatos e sinto que há algo saliente dentro de um dos pés. 

Jogo o sapato no chão. Sai a carcaça de um escorpião adulto, o mais venenoso, que amassara na semana anterior, sem que percebesse. Passara incólume à sua picada venenosa e dolorida.

Algo diferenciado se dera nesse episódio? Fora alertado sutilmente do perigo em calçar os sapatos sem olhar? O que se faz numa hora dessas? Olho para o céu azul e indago: o que isso quis significar?

A minha “cultura esotérica” insiste que não leve certos eventos para o mero acaso, a sorte.

Deixei o versículo de Lucas por último, acima (“Eis que vos dou poder para pisar serpentes e escorpiões..."), que fora uma afirmação do poder de Jesus transmitido aos seus discípulos. A mim não serve esse poder, nem pensar, até porque tenho uma propensão agnóstica, meio moderada, porém. (*)

Por esse agnosticismo, ainda que moderado, não sou elegível a pisar a salvo nesses demoninhos. Nem pensar!

O caso é que eu pisei e o amassei. Bichinho adulto, amarelado, imóvel diante dos meus olhos perplexos.

O que isso significou? Sorte? O acaso? Já disse que há situações em que rejeito explicações por essas palavras.

Não sei, mas quando dele me lembro, sinto algo a mais no meu sapato mesmo que não tão folgado como aquele no qual se alojara o escorpião sem sorte (epa!) num domingo de céu azul e ensolarado.

Agora, não há sapato que ao calçar, distraído, não me dê alguma angústia.

[Naqueles matos, porém, não passei incólume em encostar a perna numa taturana brava. Pode ter sido a dor mais atroz que senti até hoje.]

Referência no texto:

(*) Mas, o que isso significaria, “agnosticismo moderado”? Poderia ser definido numa frase do professor Paulo Edgar A. Resende em artigo numa antiga revista da PUCSP (1968 – “Deus hoje, Sim e Não”): “Os cristãos que passam ao ateísmo, não o fazem a partir de um raciocínio da existência de Deus ou da não-existência de Deus. Eles partem da convicção de que a crença em Deus não tem significação para o relacionamento com os homens, é algo separado da terra, e que poderia ficar para depois, para os períodos de intervalo, para as situações limites, para a velhice, para a época da doença.”

09/02/2014

JAPÃO, DESASTRES NATURAIS & REFLEXÕES


Este artigo foi escrito em 13.03.2011, originalmente para o portal Vote Brasil, que não mais existe – uma perda – sugerido pelo meu amigo Caio Martins de tantas décadas para responder à tragédia do Japão daqueles dias e outras tragédias com graves consequências. Outras ocorreram, mas nestes primeiro dias de 2014, vasta região do Brasil vem sofrendo forte seca, sol inclemente, água escasseando, enquanto que no hemisfério norte o frio é intenso – montanhas de neve. Como responder a tais contrastes?


Análise não muito ortodoxa da tragédia no Japão havida em 2011. A harmonia Universal e a desarmonia entre nós, os semelhantes. A predominância do espírito belicoso e predador. A luta ecológica. (1)


O telescópio Hubble vagando pelo espaço, permitiu que conhecêssemos fenômenos miraculosos fotografados em região a milhares de anos-luz que artista nenhum conseguiria imaginar, no auge de sua inspiração, paisagens daquele teor.


Foi-nos permitido assistir à criação de estrelas, sua extinção, nebulosas com cores indescritíveis nesse processo natural de evolução e retração do espaço infinito que nossa vã inteligência não consegue atinar. Aí, surgem teorias como a do “big bang” que seria a explosão de uma massa informe surgida do nada e do nada a sua a eclosão nessa grandeza imensurável que nos humilha, dependendo dos olhos que a veem.

Há, sobretudo, nesse espaço infinito, um sentido de harmonia. Nessa ordem há, realmente, os meteoritos, resíduos de corpos celestes, que tendem a se chocar com outros carpos celestes.

Mas, o planeta Terra, minúsculo e talvez por causa disso, tem sido poupado desses choques que podem ser devastadores, como se merecesse a proteção universal. Afinal de contas, trata-se de um planeta azul e verde que olhado de cima, das estações espaciais, ainda é um recanto que emociona. Um planeta minúsculo, embora lindo, com tudo para ser insignificante na ordem universal mas parece haver a intervenção daquelas forças que o defendem.

Disse que tudo no universo, no pouco que conhecemos, rege-se por um princípio de harmonia impecável que também emociona.

Na hora que se desce para o planeta Terra, porém, essa harmonia universal desaparece.
Afinal somos obrigados a conviver com almas destruidoras, assassinas, belicosas. Já disse alhures que a Terra é escola que vai desde o jardim da infância, no qual estão esses seres vandálicos até o pós-doutorado, neste nível os sábios que a equilibram.

Aqui embaixo, por conta dessas forças antagônicas os que estão acima daquele primarismo predador, que enxergam a Terra como um terreno contraditório, mas que faz parte da harmonia geral do Universo, lutam para preservá-la, melhorá-la, educar e alertar seus semelhantes, não tão semelhantes pelo que praticam. Mas, há que insistir.

Tenho para mim que os ecologistas que se voltam para o todo, preocupam-se com a quebra da harmonia no planeta porque, queiram ou não, os predadores estão em maior número.

O que seria a harmonia da Terra?

Respondo: usar sem abusar, ter o sentimento de que tudo o que nos é oferecido haverá que ser usufruído com parcimônia e aqui uma contradição ou impossibilidade, abolir a belicismo, a violência e a busca da paz.

Nesse passo, no que se refere à parcimônia, me parece que a devastação florestal já chegou ou passou dos limites, a poluição das águas constitui-se ato inacreditável porque se refere a um recurso fundamental da preservação da vida e também a poluição atmosférica em proporções gigantescas. Com as matas sendo extintas, o resultado é o aquecimento global e suas decorrências como as que temos visto, devastadoras.

E que não se esqueça que na desarmonia está a brutalização contra os animais, vidas que estão entre nós e já não bastasse a incompreensão da nossa, nada indagamos sobre elas. Apenas os matamos e os devoramos como se fôssemos feras.

Matanças desnecessárias de baleias, uma especialidade japonesa. 
Querem saber a receita do “foie gras”? Ei-la: “Três vezes por dia, durante 20 dias, um tubo é enfiado no pescoço do ganso e por ali bombeia-se 1 quilo de milho e banha. Depois, um anel evita que ele regurgite. Seu fígado adoece. É com ele que se faz o patê de “foie gras”. (2)

O subsolo terrestre já foi sacudido por inumeráveis experiências atômicas, as últimas da França e mais recentemente da Coréia do Norte. Essas experiências também se deram no mar como se quiséssemos acordar gigantes que não conhecemos, do modo mais inconsequente.

Constroem-se usinas nucleares perigosas para a própria vida humana sem a certeza de que elas estão devidamente controladas e se há realmente necessidade delas.

Afundamos sondas nas profundezas do mar em busca do petróleo sem a segurança absoluta que elas não vazem de tal modo a poluir às águas e destruir a fauna marinha. Lembram-se do Golfo do México há pouco?

Somos predadores e inconsequentes. Somos belicosos e praticamente suicidas. Imediatistas, egoístas.

Com maior frequência, repetem-se catástrofes ditas naturais como se não houvesse a reação do organismo Terra às agressões que vem sofrendo nos últimos tempos, pelo descontrole que se dá no seu equilíbrio, na desarmonia flagrante. Há muito passamos dos limites.

Dirão muitos que o desastre desta semana no Japão [a data é março de 2011], proveniente de um terremoto de 8,9 na escala Richter não é novidade. Já houve alguns mais violentos. Recentemente, com quase o mesmo abalo, deu-se no Chile em fevereiro de 2010, 8,8 na escala. Em dezembro de 2004, na Ásia, foi de 9,3 na escala, o que gerou um maremoto violentíssimo e que ceifou a vida de cerca de 200 mil habitantes na Tailândia, Indonésia, Índia.

As experiências nucleares desses belicosos do mundo foram humilhadas pelo terremoto que resultou na devastação agora de regiões do Japão. Os cálculos são de que o fenômeno equivaleu a 27 mil bombas atômicas.

Os gigantes desconhecidos estão sendo despertados. E reagem cada vez com mais frequência e com maior poder de destruição.

Quem ouvira falar de “tsunamis” (palavra japonesa = ondas de porto), com essa magnitude e destruição como o de 2004 na Ásia e o de agora no Japão?
Na tragédia do Japão, um jornal num subtítulo, alardeia a “natureza em fúria”, chamando a atenção para o agravamento do desastre com a explosão das usinas nucleares situadas na região mais atingida do país não poupadas mesmo tratando-se da notória tecnologia japonesa. (3)

O terremoto de magnitude 9 causou em tsunami que avançou sobre a costa japonesa destruindo milhares de casas e também  danificando reatores da usina nuclear de Fukushima provocando grave tragédia nuclear, não tão greve, porém, como, a de Chernobyl (Ucrânia), de abril de 1986 na extinta União Soviética. A tragédia no Japão foi causa de morte de quase 16 mil pessoas e 3,2 mil desaparecidos.



As trombas d´água não só no Brasil, mas em várias partes do mundo, também são cíclicas e mais intensas; e também as secas aqui e em outras regiões.

As tragédias na Região Serrana do Rio de Janeiro se deu por nível de chuvas nunca antes atingido.

Eu não consigo atinar, por estar assistindo eventos que jamais imaginei que pudesse assistir, aonde chegaremos, quais os limites de devastações naturais que teremos no futuro próximo.

Há um sentido de catastrofismo nessa afirmação?

Creio que todo o ecologista que se posiciona sobre o “Todo”, com a harmonia no alto e a desarmonia aqui embaixo, tem um pouco ou mais desse sentimento de perda que se avoluma cujas consequências, à frente, não pode divisar.

Então ele é vigilante porque os predadores e belicosos estão em maioria como acentuei, colocando a economia e o lucro acima de tudo sem arcarem com as consequências dos seus atos sobre o meio ambiente e sobre a própria vida. Como se fossem imortais.

Dai a luta, dai as campanhas antidegradação que visam ensinar a preservação ambiental como recurso da própria vida, pelo que espero, se intensifiquem por todos os meios possíveis em permanente vigilância. (3)

Referências no texto:

(1) V. “Resenha ambiental e ecológica” de 10.12.2013 que tem conexão com este artigo. Trecho que transcrevo: "Na 19ª Conferência do Clima realizada em Varsóvia foi enfatizada a tragédia provocada pelo tufão Hayan nas Filipinas em novembro de 2013. O negociador filipino Yeb Sano, muito emocionado com as 10 mil vítimas mortas pelo tufão, desafiou aqueles que não acreditam na realidade das mudanças climáticas, que visitassem as Filipinas naqueles dias tenebrosos.  E apelou Sano para que a conferência de Varsóvia fosse aquela que "acabe com essa loucura." (da degradação climática)."


(2) Revista “Super Interessante” de setembro de 2003
Foie gras
                          

(3) Jornal “O Estado de São Paulo” de 12.03.2011

(4) Nesse propósito, a Campanha da Fraternidade EM 2011, instaurada pelo colégio dos bispos do Brasil é bastante oportuna. Num cenário devastado, diz o cartaz que a ilustra, “a criação geme as dores do parto”. 




Fotos:

1. Hubble (NASA): a Nebulosa Carina, um dos maiores berçários de estrelas do Universo - Pilares da Criação (Harmonia) [Eu vejo um espectro criando forma]

2. Google (“Tsunami no Japão” em 2011)

3. Jornal “O Estado de São Paulo” de 20.03.2011 (“Menu: ave torturada”) 

26/01/2014

A TECNOLOGIA DESAFIANTE DAS COMUNICAÇÕES QUE EVOLUI SEM LIMITES



[Este artigo foi escrito em 29.12.2005 e revisto em 20.09.2009, agora com pequenas atualizações]


A eclosão da internet, o correio eletrônico, a impressionante precisão dos mapas do Google Maps, o GPS e até mesmo o “pen drive”. Até onde chegaremos com essa tecnologia tão refinada?

Escrevo como leigo tal qual daqueles de uma geração longínqua que se deparava, para tirar cópia de documentos, por exemplo, com uma máquina de fotocópia na acepção do termo. 

Devagar ela ia passando no rolo, meio no escuro e depois de alguns minutos lá estava a cópia fotostática de regra bem tirada em papel grosso. Depois, para tirar cópias para uso comum, tal qual o fax hoje, usava-se a “termofax” com suas folhas alaranjadas, opacas. (1).

Passei por tudo isso e, meu instrumento de trabalho, claro, era a máquina de escrever, mesmo sendo mau datilógrafo. Quantas vezes, um erro no meio de texto me obrigava a começar tudo de novo, inapelavelmente.

Com o computador, comecei a manipulá-lo para valer há cerca de duas décadas alcançada  em 2014. 
No começo da aprendizagem, marcava as teclas principais para não “deletar” inopinadamente, o texto em digitação.

Aí, um dia “caí do mundo” com o advento da internet. A minha perplexidade chegou ao auge por tudo o que ela desvendou e desvenda.

Voltei no tempo para entendê-la.

A origem da internet vem sempre ligada ao momento mais temível da guerra fria. Ela teria sido imaginada depois que a União Soviética colocou em órbita o primeiro satélite artificial, o Sputnik. Apressavam-se os Estados Unidos, então, em produzir altos estudos que objetivavam colocá-los na liderança tecnológica e científica do mundo.

Todos os estudos em torno da ideia de intercomunicação via computadores nos idos de 60, estiveram, pois, vinculados ao Departamento de Defesa americano.

Todavia, somente em 1969 um primeiro esboço da rede, se deu com a interligação de quatro universidades americanas possibilitando que professores e pesquisadores se comunicassem via computadores.

Mas, essas experiências eram incipientes se considerarmos a publicação “O Correio da Unesco” de 1983 (proclamado pela Assembleia das Nações Unidas como o “ano mundial das telecomunicações”) em nenhum momento menciona a palavra “internet” ou outro termo que qualificasse a intercomunicação via computadores.

Havia indícios de possível ampliação das comunicações: “Dentre as perspectivas abertas pela evolução técnica e pelo aumento do potencial da comunicação destacam-se suas possibilidades cada vez maiores como instrumento de educação e cultura.”

Revelava a UNESCO, porém, grande preocupação com a eventual dificuldade de acesso dos países do denominado “Terceiro Mundo” nos equipamentos modernos de comunicação, considerados elemento de sucesso “em sua luta contra a pobreza e o analfabetismo e para ampliar sua capacidade educativa”.

Possibilidades do Japão no século XXI, segundo a revista da Unesco, a partir de projetos pensados pela Nippon Telegraph and Telephone Corporation (NTT), numa mistura de telefone digital, fibras óticas, tecnologia do computador e das comunicações via satélite. A mulher consulta a lista de preço de uma loja e faz uma encomenda. O homem envia convites para um jantar usando o telecopiador. Um professor remete uma lista de perguntas aos alunos que estão em casa e recebe as respostas.

Com a internet essas tarefas, antes do advento do século XXI se tornaram corriqueiras com imensa abrangência de facilidades como se sabe.

Nos primeiros anos de 1990 já com a Internet mais avançada, mas meio hermética pelas dificuldades em acessá-la, foi introduzida a WWW – World Wide Web (Teia do Mundo Inteiro), simplesmente uma “teia mundial” (web = teia), uma ideia de um engenheiro britânico, Tim Berners-Lee, que veio facilitar a navegação na rede, resultando no fenômeno que é hoje.

Como sabido, tal a sua utilização universal, a internet, na verdade, malgrado os abusos que ela pode conter, popularizou a cultura mundial, a ponto de permitir que qualquer pessoa, grupo social ou país por mais pobre que seja, transmita suas ideias, cultura ou mesmo suas dificuldades sociais e políticas, disponibilizando pela rede, para o mundo todo, as informações. Ou receber informações.



Qualquer pesquisa, sobre qualquer assunto, hoje pode ser obtida ou completada na rede. E com ela o “inacreditável” correio eletrônico com ampla utilização. E a dizer que não muito tempo antes, o fax se constituíra numa verdadeira maravilha de transmissão instantânea de correspondências e documentos. Agora, constitui-se aparelho que vai se tornando obsoleto.

Essas afirmações são hoje até elementares. Nada há nada de novo nisso.

Mas, a rede ainda traz surpresas. E quantas ainda trará? Uma das mais intrigantes é o Google Earth. Quando se insere na tela o portal, o mundo é esmiuçado. Dependendo da localidade – e na maioria delas isso é possível – com a aproximação que o sistema possibilita, qualquer ponto do planeta pode ser identificado nos detalhes ruas e logradouros. Encontram-se, então, a casa, o armazém o quartel, qualquer endereço, em fração de segundos. Até mesmo as monstruosas queimadas e devastações na Amazônia.

Ficara há alguns anos meditando sobre as decorrências dessa “quebra de intimidade mundial” quando me deparei, então, com a afirmação de um general russo, Leonild Shazin, ligado aos serviços de segurança de seu país, sobre o Google Earth:

“Os terroristas não precisam mais fazer reconhecimento de alvos. Agora uma companhia americana trabalha para eles.”

Há, efetivamente, muito de verdade nisso, mais agora com a melhora da nitidez das imagens e dos locais.

Quero significar com esta análise que os meios de comunicação via internet parecem não ter limites. O que ainda veremos?


Em viagem há alguns anos aos Estados Unidos me deparei com a impressionante precisão do GPS. O equipamento quer dizer Global Positioning System (“Sistema de Posicionamento Global”) “que fornece a um aparelho receptor móvel a posição do mesmo, assim como a informação horária, sob todas as condições atmosféricas, a qualquer momento e em qualquer lugar na Terra desde que o receptor se encontre no campo de visão de quatro satélites GPS.” (2)

A tecnologia é recente: a primeira vez que o GPS foi usado efetivamente foi na Guerra do Golfo, em 90 e 91. Alguns anos depois, o sistema foi liberado para o uso de civis gratuitamente.



Pois bem, mesmo com o GPS de viva voz indicando as direções e as conversões, se houve erro no trajeto pré-estabelecido, o sistema trata de corrigir e define outras alternativas de caminho. Por fim, alcançado o objetivo, se em inglês, mas também em português ou outra língua, do modo mais revelador e simplório, a voz: “turn right and you reach your destination”. É demais.

E o “pen drive”, equipamento menor que um tabletinho de chocolate, do que um isqueirinho? Pois armazenou ele, todos os arquivos de meu computador doméstico e cerca de 15 anos de arquivos profissionais.

Entre outros sistemas gratuitos de comunicação como os blogs, sobressai-se nestes tempos de século XXI o facebook que, com efetividade, democratizou as comunicações entre as pessoas que podem inserir em suas páginas quaisquer tipos de mensagem praticamente sem qualquer controle.

Há estudos prevendo que o facebook se esvazie, por “fadiga”, lá pelos anos de 2017. Para mim, mesmo reconhecendo seus méritos, me parece que se trata de um modo de desviar os seus membros da leitura mais densa, uma desculpa para deixar livros de lado. Seria, então, o “fastreading”, com odor de “fastfood”, que sustenta mas não alimenta.

Paro por aqui. Outras tecnologias estão por aí, mas eu ainda não fui nelas “iniciado”. Que se renovam e se aperfeiçoam sem parar. Repito: é demais. Demais para mim, mas ou por necessidade ou por obrigação vou, devagar, assimilando já me inserindo no sistema de peticionamento eletrônico dos Tribunais. Uma vitória. Devagar e sempre. 

Epa, vou atender o Skype...desligo.


Referências:

(1) Minha crônica “O meu tempo do onça” de 27.03.2011. Nessa crônica inseri a foto de um aparelho de "termofax"

(2) Wikipédia

Imagens:

1. Representação da internet no mundo
2. Representação de satélite GPS da NASA (Wikipédia)

10/12/2013

RESENHA AMBIENTAL E ECOLÓGICA

I - Pássaros e passarinhos

Já disse tantas vezes que pássaros e passarinhos (também as borboletas?)  tem algo de brinquedo de Deus. É como para nós, quando crianças, empinar papagaio (diversão que vai sumindo como tantas outras) e torcer para que o vento batesse forte e levasse a armação colorida para o alto e ai, controlávamos, soltando a linha até que ele se tornasse quase invisível no céu.
Veja se não tenho razão quanto a serem brinquedos da Divindade, esse contraste de cores, de trinados, de belezas, conforme alguns "exemplares" abaixo.
Infelizmente não sei o "nome" deles - só alguns, o pavão, a coruja -, tão lindos, tão coloridos, tão inofensivos.

[E há os malvados que os aprisionam, comercializam e deixam que morram num  cativeiro sórdido, gaiolas minúsculas, maldades.]

Você já teve a emoção de segurar um beija-flor afoito que entrou na sala, atraído pelo buque de suco de uva e não conseguia sair? E aí precisou ser agarrado?











II - Minha convivência com bem-te-vis


Tenho a impressão que os bem-te-vis no passado não eram tão, digamos, "domesticados". Hoje, como resultado de diminuição do seu habitat, eles estão por toda parte e, quando próximos, muito me agradam.
Já relatei uma dessas convivências duradouras, mas quero deixar registrado aqui, neste "Temas" que pode ser mais amplo a pessoas que não se encantam tanto com a velocidade do facebook.
Então, sobre essa convivência com os bem-te-vis, escrevi:
Um casal se instalou no vão do ar condicionado do meu escritório. Toda manhã, nestes últimos meses, aqueles trinados estridentes, do “bem-te-vi”, “bem-te-vi”, a sombra às minhas costas das suas idas-e-vindas ao ninho. A foto 'melhorzinha' um deles, atento posicionado sobre o ar condicionado, vigiando o ninho e a palha que sobra fora, embora eles a reponham sem parar. Na foto 'piorzinha' – o vidro é espelhado – o casal no andar de baixo exacerbando o trinado de que “bem-me-viu”...



A manhã começara mal-humorada

Não bastara o café adocicado

Algo no jornal me deprimira

Uma notícia cruel e malvada.

Mas, ai um bem-te-vi

Na janela me avisou que me vira

Eu também te vi vigilante passarinho!

Encontro seus olhinhos entre as tiras da cortina.

Há um ninho nos vãos de ar condicionado, por ali.

A vida ainda se renova, bem vi.

Até quando, meu querido amarelinho estridente, até quando?

Abelhas e cardeais

No Pantanal matogrossense, numa pousada para uma parada rápida, recomposição e descanso, uma surpresa porque impensado para os caipiras das cidades.
Numa pequena casinhola de madeira, quirera espalhada na sua também pequena base retangular, aguça o empenho das abelhas em obter...exatamente o quê?
- É o melzinho que tem o milho naquela parte branca, explica o caboclo.
Ora, pelo modo como elas se empenham sobre o milho picado, quase imóveis, parecem embriagadas ou querendo assim se tornar.


Não ligam em dividir a “iguaria” com dezenas de cardeais, aqueles pequenos passarinhos, de penugem vermelha na cabeça que se apoiam na casinhola e também avançam sobre a quirera. (Transcrito da crônica "Essas coisas de Mato Grosso" de 24.07.2012, neste blog)

III - Flores  e canteiros

Sempre sou criticado pelos meus canteiros e jardins, nos quais faço predominar flores, lírios, chorões, tentando um contraste com dracenas e folhagens. E aí falta estética, combinações.
Alguns desses canteiros já divulguei em outro local. 
Mas, as flores estão avançando ficando bonitas. entre "onze horas", gerânios, lírios, ixora,azálea... não tenho que me preocupar se a estética é pobre. As multicores são vivas, e compensam o "desarranjo".  










A DEVASTAÇÃO DA AMAZÔNIA

Quanto já escrevi sobre isso. Mas, neste meu canto e em qualquer outro que se apresente, falarei sempre. Vejam que absurdo! Por aqui se comemora a diminuição de áreas devastadas como se tal medida significasse alguma esperança de preservação íntegra da grande Amazônia.  Não critico o grande jornal de São Paulo, porque esse tipo de manchete é comum: "Desmate na Amazônia sobe pela 1ª  vez em 4 anos".
A manchete esperada é esta: "Não há desmate na Amazônia há 4 anos". 
Pois bem, a notícia dá conta de que  a devastação de agosto de 2012 a julho de 2013 fora de 5.843 km² contra 4571 km² em no mesmo período de 2011 a 2012. A soma da irresponsabilidade em 2 anos: 10.414 km². EU DISSE 10,4 MIL QUILÔMETROS QUADRADOS.


                (Desflorestamento no Pará, foto de Nelson Feitosa - Ibama)

Além da madeira ilegal levada a rodo, a área semi-desertificada servirá para plantio de soja, de cuja colheita parte servirá para o preparo de ração de gado ou para pasto do próprio gado.
Até quando esse nível de irresponsabilidade, de descaso a essa reserva que tem influência forte sobre o próprio clima da Terra?



Na 19ª Conferência do Clima realizada em Varsóvia foi enfatizada a tragédia provocada pelo tufão Hayan nas Filipinas. O negociador filipino Yeb Sano, muito emocionado com as 10 mil vítimas mortas pelo tufão, desafiou aqueles que não acreditam na realidade das mudanças climáticas, que visitassem as Filipinas naqueles dias tenebrosos.

                            
                               (Devastação na Filipinas: Tufão Hayan) 

 E apelou Sano para que a conferência de Varsóvia fosse aquela que "acabe com essa loucura." (da degradação climática).

(Imaginem milhões e milhões de carros, no mundo todo, expelindo monóxido de carbono...imaginem!)


CHUVA DE OURO PEQUENA, SORRI


Tão sorridente, brilhante
Nem a ventania forte a verga
Admirada por quem passa
Indiferente para quem vê, não enxerga.

RIO TIETÊ POLUÍDO  

O rio Tiete e o seu curso cortando todo o Estado de São Paulo. A sua degradação e a degradação generalizada dos mananciais. 

Se tem algo que me preocupa é o rio Tietê por sua poluição contumaz e, o máximo de contradição, a necessidade crescente de água potável na Grande São Paulo.
O rio Tietê tem um traçado surpreendente. Nasce nas vizinhanças do mar, mas desce atravessando todo o Estado de São Paulo. Há uma explicação geológica: sua nascente se encontra na cidade de Salesópolis (110 km de São Paulo), a cerca de 1.100 ms. de altitude. No seu curso, ao atingir Barra Bonita (282 km de São Paulo) a altitude da cidade já se reduz para 450 m. E nessa “descida” sua foz se dá na barragem do lago Jupiá, Rio Paraná, depois de 1.150 quilômetros de percurso.


                 (Nascente do rio Tietê em Salesópolis entre pedras).

Se me desviar para explicações não naturais, diria que o Tietê é obra da Providência, como se adivinhasse que por ali surgiria uma imensa metrópole que precisaria de água, necessidade que se estenderia por todas as outras regiões e cidades banhadas pelo rio.

Mas, o Rio Tietê vai bem na denominada região do Alto Tietê mas, como já tanto se disse, é um esgoto a céu aberto a partir da cidade de Mogi das Cruzes agravando-se a degradação já entrando em São Paulo. Muito se promete, mas nada muda. E há estudos prevendo que em pouco tempo municípios da grande São Paulo, incluindo a Capital,  terão (e já têm) problemas de abastecimento de água potável.

Houvesse juízo político e o Rio Tietê seria uma prioridade já há décadas e hoje seria fonte de abastecimento de água na Grande São Paulo.



("Monstro do lixo" - Parque de Lavras - Salto [SP] autoras Iriana Scalet Roque e Suelio Bernadochi - do lixo "obtido" no Rio Tietê).

Em tempohá noticia informando que convênio firmado entre o Governo do Estado de São Paulo e o governo da França resultará na aplicação das mesmas técnicas de despoluição utilizadas no Rio Sena, de Paris, ao Tietê de São Paulo. Todas as orações e esperanças renovadas.


PRIORIDADES ABANDONADAS

No que se refere aos municípios brasileiros, já se disse que a maioria deles deverá ser afetada pelo desabastecimento. Há ai, em curto prazo, um grave problema a ser enfrentado.

Claro que na produção de alimentos, o consumo de água é imenso. Mas, não posso defender, por absurdo, que haja diminuição nessa produção, mas não posso omitir o desperdício. Essa é uma questão central. Não há muito foi divulgado que o consumo de água para a produção de carne bovina, revelam dados assustadores: - para 200 kg de carne bovina, estima-se que o animal abatido após três anos de vida consumiu direta e indiretamente mais 1.300 quilos de grãos, 7.200 quilos de feno e outros, 24 mil litros de água para beber, 7 mil litros de água para manutenção geral. Para toda essa estrutura de alimentos e água, o boi abatido consumiu mais 3 milhões de litros de água, significando por quilo de carne, 15,5 mil litros de água consumida. (1)

Mas o e "efeito xixi"? Ora, direis, ele se dilui na natureza e acaba voltando para os mananciais como água isso quando não escorre "in natura"  diretamente para os rios e reservatórios. E mais o estrume – que também afeta o aquecimento global -, misturada aos dejetos humanos temos uma bela sopa para dai extrair a água potável (?!) a cada dia com o crescimento de consumo. Temos uma perspectiva de caos em curto prazo.


O Brasil é realmente o país das contradições, do carnaval e do futebol. Vem vindo aí a Copa do Mundo em 2014 que está exigindo investimentos imensos para estádios, infraestrutura grandiosa no entorno, aeroportos ampliados mas pouco com a infraestrutura considerada gênero de primeira necessidade, como cuidar da água potável [eu disse água potável!], dos esgotos – pensar numa tecnologia agressiva para ele a para o lixo.
No futebol, se tudo der certo, gritaremos os gols do Brasil e, no final, campeões ou não, passadas aquelas emoções, ainda sob o cheiro forte da fumaça dos fogos, tudo voltará ao dia-a-dia com tudo por fazer...e grandes estádios ociosos.

Referências:

(1) Jornal O Estado de São Paulo de 21.03.2011. Acesse, artigo no mesmo sentido: http://www.syntonia.com/terra/artigo-impactos-ambientais-do-consumo-carnivoro/index.htm;