11/01/2017

DAS RESENHAS DOS LIVROS QUE CONSEGUI LER

Exercício mental:

Nestes tempos de comunicação eletrônica, assumo a minha perplexidade pelos recursos postos à disposição. Entre esses recursos, predomina o facebook, um misto de alienação e empolgação que abriu a possibilidade a todos de se comunicarem. Considero um meio democrático antes inimaginável.
Pois bem, eu mesmo não nego minha empolgação com o facebook que vem sendo considerado por muitos um veículo que afasta as mentes da leitura tradicional. A charge de John Holcrof abaixo dá esse sentido.



Por causa disso e para não me curvar de modo exacerbado aos recursos impressionantes do facebook e de outros recursos disponíveis é que faço breve resenha dos livros que li nos últimos meses, na verdade um verdadeiro exercício mental.



“Fahrenheit 451” de Ray Bradbury

Para a resenha completa deste livro, acessar:

 TEXTO AMPLIADO

“Dez contos para canções de Chico Buarque”

Esse livro foi publicado pela Companhia das Letras e patrocinado pela Caixa Econômica Federal.
Edição esmerada que talvez explique o vínculo do compositor – cantor com o lulopetismo.

O livro inclui dez contos tendo como fonte de inspiração o mesmo número de canções de Chico Buarque

No geral o livro é ruim.

Sei que é fácil criticar obras alheias, mas há contos no livro que homenageiam a minha mediocridade.

Salvam-se os contos de Carolla  Saavedra (“Entrelaces”), Luiz Fernando Veríssimo (“Feijoada completa”) e Mia Couto (“Olhos nus: olhos). Talvez um ou dois mais.

Tem um conto denominado “A calça branca”, sobre namorados homens muito ruim. Nada contra o namoro homossexual, mas esse conto passou batido na análise da qualidade.

Mesmo com as ressalvas acima, o livro é descartável...












“O Aleph” de Jorge Luiz Borges



É o um livro de contos do consagrado autor argentino. No total são 17 contos.

O livro se caracteriza por um estilo de maior erudição o que pode exigir uma segunda leitura. Há um quê de místico nos contos especialmente no último, o Aleph que dá nome ao livro.

Esse conto tem uma característica: o narrador se relaciona, ainda que exista rancor contido entre ambos, o primo de sua musa, Beatriz.

Esse interlocutor passa a escrever um poema interminável, desprezado pelo narrador que era obrigado a ouvir aborrecido estrofes e estrofes.

Mas, onde entra o Aleph?

Naquele círculo de alucinações ou nem tanto, o poeta disse o ter descoberto no porão de sua casa, esclarecendo que um Aleph é “um dos pontos do espaço que contém todos os outros pontos”.

No porão, o próprio narrador acaba captando o Aleph sendo exposto a revelações universais e de si próprio: “...vi meu rosto e minhas vísceras, vi teu rosto, e senti vertigem e chorei, porque meus olhos tinham visto aquele objeto secreto e conjectural cujo nome os homens usurpam mas que nenhum homem contemplou: o inconcebível universo.”

Aí eclode aquele sentimento tremendo que afeta e fere todos os seres humanos, num dado momento da vida:  a inveja. O poeta que apenas suportava foi premiado pelo longo poema e o narrador, pela sua obra, não recebeu nenhuma referência.

[De acordo com os estudiosos da linguística, o aleph do idioma fenício teria dado origem ao alpha grego que, posteriormente, originou a letra “a” no alfabeto latino.
Para os adeptos das doutrinas cabalísticas, o aleph é interpretado como um símbolo místico e espiritual, responsável por representar Deus como “o começo de tudo”. De: www.significados.com.br] 


“Transplante de menina” de Tatiana Belinky


Tatiana Belinky, juntamente com seu marido Júlio Gouveia fez parte da pré-história da televisão, nos primórdios da Tupi na qual adaptaram entre outras, as obras de Monteiro Lobato, “O sítio do pica-pau amarelo”. Fora escritora, autora de inúmeras obras de literatura infantil.

Neste, a do ”Transplante de menina”, autobiográfico, pode ser considerado “juvenil”.

Russa, nascida em São Petersburgo, com 10 anos de idade, no final da década de 20, quando o país vivia as contradições de conflitos internos graves, viajou com seus pais para o Brasil.

É a partir daí que relata as todas as suas experiências, as dificuldades de adaptação, da língua, de moradia até que residiram em São Paulo, na rua Jaguaribe, no bairro Santa Cecília.

Dai a convivência com outras crianças brasileiras, o bullying que não era assim conhecido, sua coragem e aventuras.

Nas primeiras páginas, ela escreveu isto:

“Hoje – e já há muito tempo – eu não trocaria o Brasil por nenhuma espécie de “paraíso terrestre” em qualquer outra parte do mundo (...). E no Brasil, não gostaria de  viver em qualquer outro lugar a não ser em São Paulo, essa “Pauliceia Desvairada”, essa megalópole caótica, fervilhante, dinâmica – e, sim, muito linda, onde cresci, estudei e lancei minhas raízes. E onde espero descansar quando chegar o meu dia”.

O relato se encerra em 1932, fazendo a Autora referência à revolução constitucionalista de que eclodira naquele ano, com a derrota dos paulistas.

Tatiana Belinky faleceu em 2013.












“O velho e o mar” de Ernest Hemingway



Para a resenha do livro, acessar: 

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O homem que calculava” de Malba Tahan (Julio Cesar de Mello e Souza)


Para a resenha deste livro, acessar:

TEXTO AMPLIADO







24/09/2016

TEMPO, TEMPO, TEMPO...MAS, QUE TEMPO?



A idade em Marte

Há uma seita esotérica que informa que o tempo não existe. O exemplo nada científico dado para essa crença é que nos sonhos, nas denominadas viagens astrais, o indivíduo viaja milhares de quilômetros em fração de segundos, o que faria em dias, fosse uma viagem “física”.

Quanto a mim, que creio e vivi experiências dessas viagens, cheguei a gravar nome de rua em algum lugar para o qual me transportei. Acredite se quiser! 

Na minha idade não receio em revelar essas coisas.

Então, por causa disso, tenho por hábito dizer que “eu passei pelo tempo” e não que o tempo passou para mim.

Dou o motivo sem qualquer sofisticação, de modo simplório:

Movimento de translação (em volta do sol) da Terra e de Marte:
. Terra: 365 dias e 6 horas (dia de 23h56 minutos)
. Marte: 686,98 dias (dia de 24h37 minutos)

Imagino que se eu contasse 60 anos de idade, pelo movimento de translação de Marte que é quase o dobro da Terra, lá no planeta vermelho eu teria pouco mais de 31 anos.














[E quem disse que o marciano contaria o seu tempo de vida como nós contamos por aqui?]

Onde está o “tempo” universal nessa imensidão com incontáveis sois e planetas girando em torno deles nos desafiando a compreensão?

Que tempo é esse? Há tempo?

Tempo, tempo, tempo...


Islã e suas decorrências. Os misericordiosos, os 

impiedosos e os “infiéis”


A forma “Islã” é derivada do árabe “assalã”, que significa paz, harmonia, confraternização. Islã exprime, afinal, resignação à vontade de Deus.

Para o árabe muçulmano, a denominação de infiel é dada a todo indivíduo não-muçulmano, isto é, ao indivíduo que não aceita os dogmas do Islã e não segue a trilha do Alcorão, que é o Livro de Allah. (*)

Um muçulmano piedoso, sincero, quando se refere a um infiel (cristão, idolatra, pagão, judeu, agnóstico ou ateu), isto é, quando cita o nome de um servo de Allah que viveu no erro, nas trevas do pecado (depois da revelação do Alcorão), por não ter sido esclarecido pela fé muçulmana, acrescenta este apelo:

- Allah se compadeça desse infiel!

Ou recorre a esta fórmula, que é, igualmente, piedosa:

- Com ele (o infiel) a misericórdia de Allah!

Aceitam os muçulmanos, como dogma, que o infiel, depois da vitória do Islamismo, tendo vivido na heresia, longe da verdade, estará, fatalmente, depois da morte, condenado às penas eternas. É preciso, pois, implorar sempre para os infiéis (especialmente para os sábios), a clemência infinita de Allah, o Misericordioso. (**)

Temos que há vertentes do islamismo que não são misericordiosas, mas cruéis e que querem levar os infiéis (e até mesmo fieis) desde logo “às penas eternas” do modo mais doentio, hediondo. Há os fieis soberbos, certos de que o islamismo dominará o mundo ocidental a partir da Europa.

Já se disse, é e certo, que há muitos muçulmanos piedosos que vivem ou viveram ao lado de muçulmanos cruéis e se mantem silentes assumindo uma cumplicidade tácita (!).

Tempos, tempos, tempos.

(*) O Alcorão foi “sistematizado” entre 632 a 650 dC.











(**) Todo o texto em itálico foi extraído do livro “O Homem que calculava” de Malba Tahan (Edição de 2005 – Editora Record).


Essas coisas estranhas do não acordar

Um cochilo com a TV ligada.

De repente a sensação de que está meio acordado. Parece ver-se na sua frente a alguns passos. Muito estranho.
Bate palmas para retornar ao corpo relaxado na poltrona e acordar de vez. 

Não consegue.  Ouve com nitidez o som da televisão. Meio em pânico vai até o lavabo pensando em molhar as mãos e o rosto e acordar pelos efeitos da água fria.

Mira-se no espelho e seu rosto não aparece. Apenas uma luz tênue se espalha no espelho.

Pensa em ter aberto a torneira e aí acorda.

Concorda que essa experiência, já não é a primeira vez, tenha algo a ver com a passagem natural de plano, sem traumas, vivendo aquele momento de confusão e consciente entre um mundo e outro.

Só que nesse caso não mais acorda, mesmo vendo o corpo relaxado à sua frente. Não funcionará, então, o simbolismo da água fria.

E aí, de um jeito ou outro segue para outro plano deixando tudo para trás mesmo que não quisesse.


O afogado

Vamos aceitar que na morte por afogamento no Rio São Francisco do ator global todos os episódios que resultaram no evento trágico, relatados pela atriz que lhe fazia par nas gravações da novela, sejam verdadeiros, isto é, não houvera interpretações eventualmente distorcidas pelo pânico do momento.













O ator em franca ascensão, falecido, era professor de educação física, trapezista, de estatura acima da média e sabia nadar muito bem.

Ele tinha um lado de ator palhaço. Isso lhe dá um ponto a mais na arte de interpretar. Palhaço tenta a alegria.

Ambos entraram no rio e fora ele tragado pelas correntes. Houve tentativa de salvamento pela atriz que, perto dele, franzina, conseguira apoio numas rochas.

Por que ele não?

Revelara que o ator dizia que não estava conseguindo se mover. Ela viu por último o seu olhar. Da morte? Do apelo? Da angústia? A iminência do fim dos seus sonhos? Tudo numa fração de segundos.

Essas mortes excepcionais, de figuras diferenciadas, que repercutem num dado momento são sempre um lembrete a todos pela fragilidade do sopro e à soberba.

Porque nem ela, a soberba, se salva neste terreno de provações que caminhamos no dia a dia.

Tenho tido impressões sensoriais que colocam em questão essas relações improváveis entre o ser humano, a vida na Terra e o universo.

Na verdade, para essas sensações ocasionais não tenho sequer palavras para explanar com clareza.

Já escrevi deste modo mas sem representar com precisão o sentido superior disso tudo que me deixa perplexo de vez em quando:

“Não poucas vezes me questiono num exercício desafiador, qual o significado da espécie humana nessa visão de universo sem começo e sem fim. Para que servimos além de devastar o planeta em que vivemos?” (*)

(*) Do meu livro “Joana d’Art”












“Operações inimagináveis”

Em março de 2004, num jornal semanário no ABC, escrevi uma crônica sob esse título que teve como motivação o anúncio de um transplante de rosto, beneficiando uma jovem mulher americana que fora vítima de grave acidente de trânsito, com seu veículo incendiado causando graves lesões em sua face.

Dizia então constituir algo inimaginável, num dado momento, feito o transplante de rosto – e transplantes tais ocorreriam mais tarde e ocorrem – o paciente se olhar no espelho e ver mirado alguém “desconhecido”.

Para ilustrar esse suposto estado aflitivo que me ocorria então, fizera uma ilustração valendo-me do filme “O segundo rosto” (“Seconds”) de 1966 do diretor John Frankenheimer cujo enredo se refere a um homem descontente com sua vida insípida que decide se submeter a uma plástica sofisticada e radical e, na retirada da bandagem, surge um galã, Rock Hudson.

















Passado um tempo, esse personagem transformado constata que aquele “novo modelo” também não lhe dizia respeito e pretendera mudar de novo. 

Mas, ai seu fim é trágico porque a “Companhia” que patrocinara a cirurgia não haveria de concordar, até porque fora aquele resultado a sua “obra prima”.

Nesse quadro impressionante, das possibilidades possíveis – afinal, já são tantos os transplantes de órgãos -, concluía aquela crônica num estilo de ficção:
“Sem pretender fazer humor negro com a indagação que acho justa: será possível um dia, meio ao estilo de Frankenstein, transplantar a cabeça sã pertencente a um corpo debilitado, para um corpo são de doador falecido?”

E, pelas afirmações que colocavam essa possiblidade possível, então, arrematava:

"Que tempos, meus amigos, que tempos! Quem viver verá.”

E por que volto a esse tema tão impressionante?

Porque há um neurocirurgião italiano que já faz experiências nesse sentido com animais – um cachorro estaria sobrevivendo com cabeça transplantada – que anuncia para o ano que vem, o transplante de cabeça para um corpo são de um paciente russo, lúcido, cujo corpo degenera de modo irreversível.


Sem meditar sobre questões éticas e até religiosas, repito o que escrevi em 2004: 

Que tempos, meus amigos, que tempos! Quem viver verá.”

31/08/2016

SOB O ATAQUE DAS SOMBRAS - Joana d'Art


No meu livro Joana d’Art como já disse há episódios de ficção e de memória ou inspirados nela.

Há um momento em que descrevo, inspirado em fatos, que a personagem Joana é convidada por uma colega a se aproximar de um “trabalho espiritual” conduzido por um guia.

E ela vai, uma tentativa de melhorar sua baixa estima, segundo as razões e experiências que relato no livro pelas quais ele passava.

Foi nessa sessão dita “espiritual” que sentiu o terror e a experiência das sombras se apossando de sua interioridade, forças funestas que passaram a dominar sua vontade e somente vencidas pelo modo como explano no livro.




Há uns 20 anos estava esquecido na minha estante um livro capa dura, muito bem impresso e apresentado, da Editora Abril, “Seitas Secretas”.

Esse livro foi uma descoberta. Muito bem escrito e traduzido, o texto vai a detalhes das várias correntes esotéricas e ocultistas (as seitas secretas) sem esquecer antigos movimentos e grupos como os templários, a origem hermética dos rosa-cruzes - os “invisíveis”, a maçonaria e as ordens secretas do final do século 19, especialmente o surgimento da Sociedade Teosófica que permanece até hoje ativa.

Havia outras correntes místicas na Europa e Estados Unidos naqueles idos, seguidas por grupos de pessoas instruídas e perplexas com, digamos, as forças espirituais que se bem meditadas fazem parte de muitos momentos da vida de todos aqueles que detém um nível de compreensão e refletem de modo filosófico, o sentido da vida e de tudo que nos rodeia.

Mas, nessa quadra do século 19, creio que com poucas atividades sociais pela precariedade das comunicações e da locomoção essas práticas até surpreendem.

E, na verdade, nem tudo eram revelações interiores positivas, de elevação, de tentar compreender os mistérios da espiritualidade com a serenidade que esses valores elevados exigiriam.

Pois bem, o escritor irlandês William Butler Yeats, Nobel de Literatura em 1923, místico, filiado à ordem Aurora Dourada e depois à Sociedade Teosófica diria que “a vida mística é o centro de tudo que faço, tudo que penso e tudo o que escrevo” e que “não poderia ter escrito uma única palavra [de algumas de suas obras] “se não houvesse feito da magia meu estado constante”.

Relato de sua experiência que se viu sob o domínio das sombras, de forças que emanam de um mundo paralelo, tenebroso:

“Quando rapaz participou de uma reunião em que um feiticeiro encapuzado – que trabalhava com um turíbulo [incensário], adagas, um crânio humano e outros implementos apropriados – cortou a garganta de um galo novo e derramou seu sangue em uma cuia enquanto recitava encantamentos. Yeats não viu serpentes aparecerem, como outros presentes na sala disseram ter visto, mas sentiu-se rodeado por nuvens negras más, tão ameaçadoras que julgou ser necessário lutar para não ser dominado.”

Essa experiência do escritor irlandês – que não me inspirou no relato que fiz, porque vim a conhecer posteriormente - é bem parecida com a experiência de Joana descrita no meu Joana d’Art.












Contato com o Autor sobre o livro Joana d’Art: miltonmartins44@outlook.com

O livro Joana d’Art é encontrado em Piracicaba, nas Livrarias Nobel (centro e shopping)




09/03/2016

ENIGMAS DE JESUS



Explicação: Achei esta crônica “perdida” no meu blog que trata de questões políticas e sociais (Artigos). Foi escrito no dia de Natal de 2009. O blog “Temas Livres...” é mais adequado para explanações desta natureza por ser mais acessado do que no blog "Artigos”.
Descobri esta crônica porque pelo Google, alguém a acessou. Foi bom, porque para o meu grau mui modesto de lucubração, gostei do que escrevi.

O Natal foi deturpado pelo consumismo. O aniversariante foi substituído pelo papai Noel que se transformou num eficiente garoto propaganda da atividade comercial. Mas, ainda assim, há um sentido de paz na data pelo que emana das mensagens de Jesus. Enigmas.

Participando há dias de festa de confraternização de uma empresa que assessoro, foi convidado um religioso católico (“monsenhor”) para algumas palavras sobre o significado do Natal.

Para minha surpresa, a maior parte de sua peroração fora afirmar “O Natal não é o Natal”, tal a distorção que se dá nesses dias de festa, nos quais predomina a volúpia do consumismo e o papai Noel, essa figura importada do hemisfério Norte cuja vestimenta não se coaduna com o clima tropical do Brasil. Onde as renas, a neve? Papai Noel, esse “garoto propaganda” de muitos negócios, obscureceu o “aniversariante”.

No fim, pouco falou da figura de Jesus Cristo, encerrando sua participação concitando todos à reza do “Pai Nosso”, oração que fora, segundo o Evangelho de Mateus, ditado por Ele.

Naquele instante, surpreso com o rumo dado pelo religioso, saí um pouco do clima e me perguntei quem fora realmente essa figura tão polêmica como é Jesus Cristo, cuja passagem física pela Terra é tão pouco documentada?

Uma referência tênue se dá no livro "A Vida dos Doze Cesares" de Suetônio escritor que vivera em Roma aproximadamente entre 89 a 141 DC. No império de Tibério Cláudio Druso, lê-se no citado livro que o imperador expulsara "de Roma os judeus sublevados constantemente por incitamento de Cresto". As notas de rodapé explicam que aqueles judeus expulsos foram os primeiros cristãos e que Cresto era Cristo.

A essa referência imprecisa, há questionamentos do Seu próprio nascimento. À data tida como certa, de onde teve início a contagem de nossa era, conteria um equívoco: o que parece mais certo é que Jesus teria nascido quatro anos antes, havendo dúvida até quanto ao dia e mês exato do nascimento. (1)

Estamos vivendo dias de pesquisa que reviram tudo. A internet constitui-se fonte para todas as tendências.

Nessa linha, surgiram teses e estudos sérios, colocando Maria Madalena, não como uma mulher obscura, mas como companheira de Jesus.

E isso não se deu tão só com a eclosão do livro “O Código Da Vinci” de Dan Brown. Esse autor apenas popularizou o tema.

Atente-se para este trecho de Juan Arias, em artigo no jornal “O Estado de São Paulo” de 25.12.2005, ele que é jornalista e foi correspondente no Vaticano por 34 anos:

“A descoberta de importantes manuscritos em 1945, no deserto do Egito, faz pensar que existiu um cristianismo de primeira hora, capitaneado pelas mulheres, tendo à frente Maria Madalena, considerada a grande inspiradora de Jesus, sua esposa e depositária de seus maiores segredos. A mulher para quem o dia da ressurreição aparece antes que a Pedro e que à sua própria mãe, algo que já causava dores de cabeça a Santo Tomás”.

E a dogma da ressurreição? Coloco uma voz autorizada que põe em dúvida a Sua morte na cruz com alguma relutância, porém, porque o livro que eu saiba não se inseriu no “circuito comercial”, digamos. Trata-se da obra “A Vida Mística de Jesus” de H. Spencer Lewis que foi um dos principais líderes da Ordem Rosacruz – AMORC.

A 1ª edição é de 1929, dirigido ao público em geral e não somente reservado aos membros da Ordem, defende que a crucificação de Jesus não resultara em sua morte física. Os fundamentos dessa convicção, informa o autor, se assentaram em pesquisas efetuadas “nos lugares santos e místicos da Europa, Palestina e Egito” e de crônicas ao seu alcance nos arquivos existente em sua entidade.

Efetivada crucificação de Jesus, num dado momento, relata o autor, chegara até Pilatos uma mensagem que trazia o selo do próprio Tibério (imperador romano nos tempos de Jesus) instruindo-o a “revogar a ordem de prisão e adiar todo o processo, até que pudesse ser feita por Cireneu, uma investigação mais completa do caso. Até que isso acontecesse, Jesus deveria ser posto em liberdade”.

Diante disso, aproveitando a escuridão e a tempestade, Jesus foi removido da cruz ainda com vida e levado a salvo pelas mãos de membros da comunidade essênia – estudiosos da espiritualidade. Sobrevivido à crucificação, mais tarde reencontrou-se com seus discípulos, voltou a instruí-los até o momento em que a “porta de Sua vida pública foi cerrada para a Humanidade”.

Eis aí a “ressurreição”!

Mas, indiscutivelmente, a mensagem de Jesus Cristo fora e tem sido um divisor de águas.

Isso porque Ele pregara o amor como ponto de partida, instituindo toda uma conceituação religiosa que se materializou no "Sermão da Montanha", nas suas parábolas, produzindo uma radical mudança na mente de milhares de pessoas, que se renova com o passar dos séculos embora hoje se constatam desvios diante do consumismo e do agnosticismo crescente. E daí a indiferença.



Um religioso certa vez me perguntara:

- Já imaginou sem os ensinamentos de Cristo, como poderia estar o mundo, se não fosse imposto um freio à barbárie de há dois mil anos? E não é Ele ainda um freio à nossa própria barbárie? É Ele, sem dúvida, o grande redentor porque as pessoas, quando desejarem ou precisarem, têm uma tábua vigorosa onde se apegar. Alguns são irremediavelmente tocados por Ele. Preste atenção, completara esse religioso, toda imagem ou estampa de Jesus, tende a atrair a atenção das pessoas distraídas, mesmo que em princípio fora de seu campo normal de visão. Num dado momento elas se deparam encarando a Sua imagem. A própria comemoração do Natal, ainda que a data não seja correta: há um momento em que a volúpia comercial dá lugar a algum sentimento diferenciado no coração das pessoas, para algumas até com mais ênfase, uma esperança de melhora, de solidariedade. Porque nesses dias, acreditam tantos, Seu espírito voltaria a tocar a Terra, purificando-a, reacendendo sentimentos de solidariedade, perdão e amor.

Creio mesmo que, em momentos próprios, alguma coisa se revela ao espírito do indivíduo. Certa feita, por obrigação, presente a um culto religioso numa igreja evangélica, num dos sermões foi dado a um fiel ler um trecho do Evangelho de São João no qual Jesus, a Nicodemos, disse a célebre frase: "Na verdade, na verdade, vos digo, que não pode ver o reino de Deus, senão aquele que nascer de novo".

Diante da ignorância de Nicodemos, demonstrada com novas perguntas, Jesus quase que desconversou, mas por fim encerrou assim a conversa, parecendo até mesmo revelar certo desapontamento com seu interlocutor: "Tu és mestre em Israel e não sabes essas coisas". (João 3, 10)

Que coisas? Que temos que renascer? Que temos que voltar a este mundo muitas vezes? Não fora essa passagem uma convincente revelação de que Jesus falara em várias renascimentos, para "ver o reino de Deus"? Onde se situaria, então, o dogma da ressurreição?

Não parece convincente que o “nascer de novo”, seja na interioridade de cada um, na espiritualidade, porque nesta Terra as diferenças entre indivíduos e povos são notórias alijando muitos milhões dessa realização num período de vida relativamente tão curto. (2)

Essa passagem, somadas a outras tantas, apenas aguçam os enigmas da figura, da vida e da existência de Jesus Cristo.

Referências:

(1)            V. minha crônica “Estrela que acompanhou os Reis Magos. Mistérios” de 08.09.2015 neste “Temas”;


(2)            “Este é o planeta das contradições: ao lado de monstruosidades humanas, vivem sumidades e homens inspirados. Cientistas abnegados. Por analogia, poderemos considerar tratar-se duma grande escola na qual o aprendizado vai do jardim da infância, tudo meio caótico e primitivo, ao mais elevado curso de doutoramento espiritual.” (v. minha crônica “Onde estava Deus” de 12.10.2009 neste “Temas”)